Diz o ditado – que teve origem num escândalo, em Roma, por volta do ano 60 a.C., envolvendo Júlio César, sua mulher (Pompéia) e um nobre pretendente (Clódio) - que “à mulher de César não basta ser honesta, tem que parecer honesta”.
E os nossos políticos? Precisam de ser honestos e agirem como tal ou basta disfarçarem a sua (des)honestidade em tempo de campanha política e depois revelarem o seu verdadeiro ser?
Reza a história que a moda, ou melhor, o culto da imagem associado à política surgiu pela primeira vez no reinado de Luís XIV, o rei sol, em França. Todavia, mais perto da actualidade, esta associação entre imagem do político e número de votos viria a ser importante, por exemplo, no debate televisivo para a campanha presidencial de 60, entre Kennedy e Nixon, onde a imagem de jovem galã seria decisiva para a vitória do primeiro.
Ora, parece que Portugal, ou melhor, os assessores de comunicação e o staff dos partidos políticos já perceberam a importância deste jogo entre a ilusão e a realidade, pelo que a líder do maior partido da oposição, neste momento em campanha eleitoral, se recusou mesmo a participar em comícios ou manifestações políticas, podendo assim “desiludir” os seus potenciais eleitores e, quem sabe, até alguns militantes do seu partido…
Mas, a expressão “uma imagem vale mais que mil palavras” parece também estar aqui em sintonia com esta nova forma de fazer política e de vender um produto a um consumidor que apenas conhece o seu exterior (aparência) e nada sabe do seu interior (essência). Isto é, as caras dos actores políticos entram-nos naturalmente pelos olhos a dentro muito antes de sabermos qualquer coisa sobre si mesmos, de sabermos como interpretar a linguagem que expressam e a imagem que procuram veicular… aliás, a velocidade a que correm as imagens na televisão é completamente incompatível com a velocidade cognitiva e reflexiva que o cérebro necessita para as poder analisar…
Portanto, com base nesta nova realidade parece que analisar os nossos políticos é cada vez mais uma tarefa impossível e desnecessária. Por exemplo, como catalogar pela imagem os actuais líderes e candidatos a primeiro-ministro de Portugal?
Jerónimo de Sousa (líder do PCP e candidato pela CDU) – parece ser o único “indiferente" em relação à moda, ou melhor, não se preocupa em gastar muito dinheiro na compra de coisas supérfluas; sabe o quanto custa o dinheiro; fisicamente tem boa aparência e parece ser alguém que demonstra grande coerência entre o discurso e o carácter. É portanto, como se diz na gíria popular, alguém a quem se pode confiar um familiar, a quem se pode vender o carro…
Paulo Portas (líder do CDS-PP) – é o emblemático “menino de boas famílias” que estudou em colégios privados e em casa teve uma vida cultural intensa; veste bem e cuida da sua imagem pública; clássico mas vaidoso; tenta demonstrar tranquilidade e pose de estado - responsabilidade; acutilante, directo, claro e objectivo no discurso (não fosse, por formação, jornalista), embora o seu conteúdo por vezes pareça à opinião pública mascarado de oportunismo.
Francisco Louçã (líder do BE) – demonstra grande descontracção quer na forma como se veste (não usa gravata) quer na forma como procura passar a sua mensagem política. Informal, considera-se o líder da esquerda em Portugal e aquele que é mais coerente com a sua ideologia e postura políticas. Objectivo, claro e bastante crítico; próximo dos jovens, trabalhador e alguém que não cede nem demonstra medo em denunciar a corrupção que perpassa na sociedade/estado.
José Sócrates (líder do PS e actual Primeiro-ministro) – nas suas palavras, “determinado”, embora a opinião pública o considere “teimoso, obstinado” e até mesmo cego em relação a algumas realidades. Vaidoso, grande comunicador e argumentador. Demonstra grande à-vontade perante a comunicação social, embora por vezes se exalte. Fisicamente, com boa aparência, inteligente e corajoso. Nem sempre coerente entre o discurso e a acção. Responsável, mas também alguém que não olha a meios para atingir os fins.
Manuela Ferreira Leite (líder do PSD) – a dama-de-ferro à portuguesa; nas suas palavras, aquela que diz a “verdade”, resta saber que verdade é esta?; tecnocrata; ex-ministra da educação e das finanças que fez grandes e importantes reformas, portanto; reformista. Determinada, com um guarda-roupa desactualizado e uma imagem, que talvez também derivada à idade, necessita de ser mais cuidada; coerente na relação entre o discurso e o carácter; a imagem da avó que sabe o que quer para os seus netos e que ainda quer mandar…
Com o perfil destes candidatos, resta-nos perguntar como estará Portugal em 2013?
Miguel Alexandre Palma Costa
Filosofia
Sociedade Portuguesa de Filosofia
Associação Portuguesa de Fenomenologia
Associação de Professores de Filosofia
Revista Portuguesa de Filosofia
Exames Nacionais de Filosofia - GAVE
Crítica - Revista de Filosofia
Psicologia
Associação Portuguesa de Psicologia
Educação
Direcção Geral de Recursos Humanos da Educação
Secretaria Regional da Educação da Madeira
Sindicato dos Professores da Zona Norte
Sindicato Democrático dos Professores da Madeira