Este espaço comunicativo foi pensado com o propósito de facultar a todos os interessados um conjunto de reflexões e recursos didácticos relativos ao ensino das disciplinas de Filosofia e Psicologia, acrescentado com alguns comentários do autor.

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Segunda-feira, 1 de Junho de 2015

Uma lição de estética

 

 

 

Fundação.jpg

 

3 de Agosto de 2014 (domingo)

23:00 horas

Acabados de aterrar em Lisboa, no afamado aeroporto da Portela, eu, o meu irmão e os meus pais, e depois de recolhermos as malas que transportamos no porão do avião, apanhamos um táxi (preto e verde) e lá fomos para o hotel que tínhamos reservado. SANA Lisboa Hotel, um hotel moderno, com decoração contemporânea e numa excelente localização, ou melhor, na Avenida Fontes Pereira de Melo, a 350 metros da famosa Praça do Marquês de Pombal. Para o dia seguinte tínhamos reservado algo de muito especial, iríamos, em família, ao Museu de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian, criado em 1956 por disposição testamentária de Calouste Sarkis Gulbenkian, um multimilionário turco que se apaixonou por Lisboa.

 

 

4 de Agosto de 2014 (segunda-feira)

9:00 horas

Depois de uma “dilatada” noite, eu e os membros da minha família, lá fomos então satisfazer um dos desígnios que nos conduziu nestas férias à capital: realizar uma visita cultural (guiada) ao Museu de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian, na Avenida Berna, bem junto à Universidade Nova de Lisboa, uma das universidades onde gostaria de realizar os estudos académicos.

Pelas 9:30 foi-nos apresentada uma jovem, de nome Maria João Teles (uma estagiária licenciada em História de Arte), que se fazia acompanhar com cerca de 20 pessoas - também elas visitantes - e que foi a nossa guia e anfitriã na visita ao museu.

A guia não só nos apresentou a coleção de arte (Pintura) da Fundação Calouste Gulbenkian, assim como nos explicou muito sobre o que é e não é arte.

 

10:45

- Estávamos agora na minha secção preferida, a coleção de pintura. E começamos por olhar e examinar um pouco da pintura sacra dos séculos XIII e XIV para depois passarmos aos mestres da flandres e Holanda, e alguns renascentistas italianos.

Nesta parte do museu foram-nos apresentadas algumas ideias e saberes que não conhecíamos, quer eu quer os restantes elementos do grupo, que passo agora em revista:

- A estagiária Maria João Teles começou por dizer-nos que a pintura e a sua contemplação tem muito a ver com uma coisa a que se chama estética. E o que é a estética?

Foi-nos dito que enquanto disciplina filosófica, surgiu na Grécia antiga, e era uma reflexão sobre as manifestações do belo natural e do belo artístico. A palavra original era aistesis, significando “sensação” e estava ligada à beleza e à contemplação dela, máximo objetivo da arte.

Hoje a estética continua a ser uma área que trata dos assuntos da arte, na medida em que estes são problemas importantes no âmbito daquilo que a filosofia abrange: por exemplo, a relação criadora entre o artista e a obra de arte, a experiência contemplativa da obra de arte, etc.

 

Taylor.png

Inglaterra, 1833; Óleo sobre tela; A. 88 cm; L. 120 cm

 

11:15

- Detivemo-nos agora diante do quadro intitulado “Quillebeuf, Foz do Sena”, da autoria de Joseph William Turner, quando a guia estagiária Maria nos pediu que aproveitássemos uma experiência estética do objeto que estava diante de nós... o que nos levou logo a não percebermos nada!

 

- E o que é uma experiência estética? Perguntei eu.

 

- "É uma espécie de atitude estética. Atentemos em que consiste ambas", respondeu Maria.

- O ser humano é pensamento, inteligência, razão, mas também é emoção. O meio envolvente, a natureza, o que vê na rua, por exemplo, desperta nele emoções de agrado ou desagrado, de prazer ou de tristeza, de beleza ou fealdade… Mas nós não nos limitamos a contemplar, também criamos, produzimos objetos artísticos onde procuramos não apenas expressar emoções, mas também o fazemos de forma que outros as possam igualmente experimentar quando as/os contemplam.

E continuou Maria – a experiência estética tem como resultado o juízo estético. Mas o que é o juízo estético?

- De uma forma muito simples, é um juízo de gosto, isto é, uma “frase” onde julgamos objetos mediante o nosso sentimento. Neste caso, está ligado à nossa capacidade de reconhecermos o belo, de apreciar, de ajuizar sobre obras de arte ou sobre a natureza.

Foi-nos também explicado que um filósofo alemão do século XVIII, chamado Immanuel Kant, disse que o juízo estético é um juízo de gosto que indica um sentimento subjetivo, mas ao mesmo tempo desinteressado e que deve tender para um consenso subjetivo universal.

 

- Confesso que não entendi quase nada! Mas depois escutei melhor a explicação.

 

- Para Kant, o facto de um sujeito considerar uma obra de arte como bela, e isso ser um juízo de gosto subjetivo, não significa que essa obra de arte não possa ser igualmente considerada como bela por outra pessoa, e é isso que faz com que a arte dependa de avaliações subjetivas com pretensões universais.

 

Degas.jpg

 França, c. 1863; Óleo sobre tela; 92,1 x 69 cm

 

11:30

- “Descansámos” agora diante de uma pintura de do século XIX, um “Auto-retrato ou Degas Saluant”.

Aqui foi-nos lançado mais um desafio pela guia Maria Teles: O que é arte? Pode um auto-retrato ser arte?

Bem, responder a esta pergunta é colocarmo-nos em enormes dificuldades, pois não há uma definição consensual e unânime entre os especialistas sobre o que a arte é.

 

- A palavra arte provém do grego techné e do latim ars, significando desde técnica e/ou habilidade como criação artística, procura do belo,... Por outras palavras, a arte está ligada à criação de objetos cujas formas, massas, texturas e proporções propiciam sensações estéticas agradáveis, por oposição às criações que provocam reações de repulsa ou de desagrado em nós. A arte e o seu propósito é proporcionar-nos sensações estéticas; criamos objetos artísticos tendo em vista a experiência estética e esta existe em todos os homens. Não há homens sem experiência estética, e mesmo um auto-retrato pode provocar em nós este tipo de experiência!

 

- Se é verdade que a arte depende do artista que a cria (e o artista é aquele que alia criatividade ao que recebe da realidade), a arte e o resultado da criação artística é a produção de uma realidade transfigurada, isto é, uma realidade ultrapassada e alargada ao mundo imaginário do seu criador, à sua subjetividade, à sua capacidade de transformar experiências em objetos de arte que nos possibilitam sentir o belo, melhor, ser seduzidos por ele.

 

Renoir.jpg

 França, c. 1872-1874; Óleo sobre tela; A. 53 cm; L. 71,7 cm

 

- Depois deste esclarecimento, chegámos a uma sala onde estavam autênticas obras-primas e de grande valor monetário. É verdade, estava, ou melhor, estavamos agora à frente de um quadro da autoria de Renoir com a denominação “Retrato de Madame Claude Monet”, uma obra da corrente impressionista.

- Aqui a estagiária Maria lançou-nos mais uma questão: a arte é imitação ou expressão?

 

- Nenhum de nós sabia a resposta, e ecoou o silêncio durante alguns segundos… até que a própria

"guia-estagiária" explicou:

 

- A teoria da arte como imitação, a teoria mais antiga, defende que a arte é uma imitação ou representação figurativa da natureza, das ideias, da ordem ou harmonia cósmica, etc. Por outro lado, a teoria da arte como expressão refere que a arte é a expressão de emoções, dos sentimentos dos artistas. Portanto, a arte é aqui o reflexo de uma dimensão subjetiva (a nível emotivo, formal ou simbólico) do sujeito enquanto criador artístico, e esta concepção de arte surgiu somente a partir do século XIX.

Por exemplo, a corrente impressionista e o quadro de Pierre-August Renoir que agora estava diante de nós é bem o exemplo deste tipo de arte que parte da realidade mas que simultaneamente se distancia dela, pois é o reflexo da sensibilidade, do sentimento e das emoções/impressões ..., do artista que a elaborou.

 

Monet.jpg

França, 1880; Óleo sobre tela; A.68 cm; L. 90 cm 

 

11:55

- Estávamos agora defronte de mais uma magnífica obra do museu: “O Degelo”, da autoria de Claude Monet, uma paisagem, austera e dolorosa, que representa um degelo de grandes proporções ocorrido junto ao Sena, na região de Vétheuil, a oeste de Paris, nos primeiros dias de Janeiro de 1880.

A nossa guia, Maria Teles, interrogou-nos mais uma vez: os entendidos em arte dizem que a linguagem desta é simbólica e polissémica, o que é que isto quer dizer? O que acham?

 

- Ora, ninguém se pronunciou. Reconhecíamos mais uma vez desta maneira a nossa ignorância. Mas, a expert no assunto, a nossa guia, depressa nos ajudou:

 

- Por “polissemia” entendamos a qualidade que faz com que uma forma, palavra, ou imagem possa ter diversos sentidos, consoante o contexto de utilização e a sua inserção nesse mesmo contexto. Ora, em arte quer dizer praticamente o mesmo. Uma obra de arte é também ela polissémica, apresenta mais do que um significado, ou seja, ela tem um carácter de abertura, é uma obra aberta pois possibilita uma variedade/multiplicidade de interpretações.

Como diz o escritor Umberto Eco, ela tem «a possibilidade de ser interpretada de mil modos diferentes sem que a sua irreproduzível singularidade seja por isso alterada». É próprio das obras de arte serem interpretadas e reinterpretadas de múltiplos modos, eventualmente até imprevistos, e esta é a sua grandeza!

 

Mas estávamos agora mesmo no final da nossa visita, e sem mais demoras, porque a hora do almoço estava para breve, ficamos todos a pensar numa única ideia depois do que havíamos visto: O que é afinal a beleza? Pode a arte mostrar o belo? O que é o belo?

- A esta pergunta respondi: «bem, com base em tudo o que vi e ouvi hoje, penso que o belo é obviamente o que provoca uma emoção estética em mim, que é agradável, harmónico, aprazível para os meus sentidos, que me parece quase-perfeito, é o que determina uma experiência de prazer suscitada pelas coisas que observo. Melhor, o belo é aquilo que me “espanta”, mas num sentido positivo, isto é, que me faz sentir bem quando o contemplo.

 

12:40

Chegamos, então, ao fim da exposição. Era praticamente hora de ir almoçar e tínhamos tido um conjunto de experiências maravilhosas naquela manhã. Um dia hei-de voltar, pensei eu, mas seguramente com mais tempo para apreciar tudo de novo!

 

Miguel Alexandre Palma Costa

(Texto elaborado com base nos conteúdos programáticos da disciplina de Filosofia do 10.º ano - temática: 3.2. A dimensão estética - Análise e compreensão da experiência estética) 


rotasfilosoficas às 14:59

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Ser professor hoje

 

 

Ensino.jpg

 

Se o professor só trabalhasse efectivamente 35/40 horas semanais (…), se o professor não comprasse o seu próprio material de trabalho (…), se o professor só ensinasse e falasse sobre matérias/assuntos para os quais está científica e profissionalmente habilitado (…), se o professor se limitasse a trabalhar no seu local de trabalho (…), se o professor verdadeiramente usufruísse do direito a emitir opiniões/recomendações e fosse escutado sobre as orientações e funcionamento do estabelecimento de ensino em que trabalha e sobre o sistema educativo em geral (…), se o professor fruísse efetivamente da liberdade de escolha dos métodos de ensino, de tecnologias/técnicas de educação e dos meios auxiliares de ensino mais adequados (…), se o professor desfrutasse de uma prática pedagógica de qualidade, enquadrada em horários que salvaguardassem o seu trabalho individual, colaborativo e a vida familiar/pessoal (…), se professor auferisse uma remuneração objetivamente compatível com as qualificações e exigências profissionais que lhe são prescritas (…), se o professor ainda ocupasse a importância social que a função docente majestosamente tem na preparação de todas as outras funções sociais, (…) se algumas destas condições tivessem sido acolhidas nos últimos anos em Portugal, estou bem seguro que a escola hoje não seria tal qual como a conhecemos.

Valerá ainda a pena ter esperança numa profissão como esta e num país assim?

 

Miguel Alexandre Palma Costa


rotasfilosoficas às 14:30

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