A condição humana está subordinada, inexoravelmente, à cronologia, isto é, ao tempo, a um fim, terminus, à morte (à “finitude” de um destino; Heidegger expõe-nos como ser-para-a-morte [Sein und Zeit]). Não obstante, a idealidade da reversibilidade da idade, ou melhor, o elixir da juventude como comummente lhe chamamos (e é pelo corpo, com efeito, que nos inscrevemos na finitude do tempo, não matemático e abstracto, mas humano, concreto, ontológico… ) está hoje mais impregnado nas nossas sociedades do que nunca. Veja-se, por exemplo, o número crescente de cirurgias estéticas realizadas apenas com o intuito de retocar a “imagem” ou retardar o envelhecimento, sobretudo no género feminino; o congelamento de células embrionárias/gâmetas como forma de preservar a “fecundidade” mesmo depois da cessação da sua produção por parte do organismo, a “nova”medicina anti-envelhecimento, a industria de fármacos que prospera e promete verdadeiros milagres, etc…
Ora, tudo isto visa uma luta contra o enigmático “tempo” (um passado que já não é, um futuro que ainda não é e um presente que não tem “densidade” própria), e que nas palavras de Santo Agostinho «se ninguém me pergunta, sei; se me perguntam e o quero explicar, já não sei».
O tempo, ou melhor, a consciência temporal que marca a condição da vida humana, está também interligado com conceitos nucleares como: liberdade, destino (fatalidade), possibilidades, hereditariedade, origem, fim, perenidade, vida, etc… Mas a experiência do tempo é sobretudo a experiência consciente e dramático-trágica da antecipação da morte, pois este também é, em sentido lato, a “medida” da vida, o relógio onto-cronológico que marca (prescreve) uma história desde o nascimento até ao terminus…
É verdade que o tempo não se vê (Kant descreve-o juntamente com o espaço como a forma a priori da sensibilidade que marca a sucessão dos fenómenos externos e dos estados internos), que a percepção e a linguagem falha quando o queremos “inscrever”; que o tempo é fugaz e inapreensível, que a memória é no ser humano o registo e a apreciação psicológica do próprio tempo; que a ideia nietzscheana do «eterno retorno» não passa de uma forma egoísta de auto-conservação que assegura a perpétua realização do homem, que o homem está destinado a um só tempo…
Em suma, o eterno ou "infinito" enigma do tempo, e apesar das surpreendentes e importantes descobertas reveladas pelo mundo da ciência, continua a assolar e a inquietar o espírito humano; ele é interrogação primordial mas continua perpetuamente vedado ao pensar humano… (Carlos Henrique do Carmo Silva); todavia, real, pois a existência humana continua angustiada “entre” um nascimento e a morte.
Miguel Alexandre Palma Costa
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