Este espaço comunicativo foi pensado com o propósito de facultar a todos os interessados um conjunto de reflexões e recursos didácticos relativos ao ensino das disciplinas de Filosofia e Psicologia, acrescentado com alguns comentários do autor.

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Segunda-feira, 11 de Junho de 2012

O conceito de razão

 

 

 

«De facto, todo o ato de conhecimento inclui duas funções, perceção sensível e pensamento. Com isto não se devem querer distinguir duas faculdades humanas claramente definíveis. Os psicólogos estão cada vez mais convencidos de que perceção e pensamento não se podem separar entre si Todavia, é claro que algumas das nossas experiências são predominantemente de natureza sensível; outras, pelo contrário, de natureza racional. É igualmente claro que os sentidos nos possibilitam um conhecimento de factos isolados, isto é, de dados determinados os quais, grosso modo, se encontram não-organizados e desconectados, enquanto a nossa razão tende para conceitos gerais e leis. (...). A Natureza consiste em elementos individualizados como seres, sons, sensações de paladar, objetos individuais, etc.; contudo, não hesitamos em a submeter a leis gerais; é o que acontece quando afirmamos possuírem todos os objetos massa ou todos os corpos próximos da terra estarem submetidos à atração universal. A experiência sensível não nos permite que façamos afirmações sobre «todos», enquanto a razão não se encontra disposta a captar os factos singulares no seu contexto concreto e temporal. (...)

Mesmo uma reflexão sobre os objetos da vida quotidiana contém elementos construtivos. Se penso numa árvore, não reproduzo apenas todas as qualidades preceptivas a ela ligadas; faço mais: a árvore percebida era um grupo de cores vistas, formas e, talvez, impressões tácteis e cinestésicas. À sua imagem da memória acrescento os caracteres da sua «exterioridade», da sua forma tridimensional e sua existência durável. Especialmente a última é um componente construtivo das impressões visuais pois a árvore vista não continua a existir se eu desviar dela o meu olhar atento. O trânsito, operado na consciência, dos diferentes aspetos passageiros da árvore vista «em privado» para a vista «publicamente», isto é, para o objeto reconhecido por todos, realiza-se tão automaticamente que a diferença entre as duas árvores, a «privada» e a «pública» não é habitualmente
considerada. (...)

A experiência realiza-se de maneira a que seja completada e integrada, pela passagem do sensível e espontâneo para o racional e refletido. Mediante esta passagem, os elementos do dado recebem aspetos metódicos característicos e permitem ao pensamento dominá-los. Às propriedades dos simples dados dos sentidos é inerente uma certa imprecisão lógica e um entrelaçamento complicado que torna impossível uma classificação pura e simples dos dados na sua especificidade individual. (...)

A via conducente ao saber metódico exige a introdução de construções. Estas são o elemento racional a que deve corresponder a experiência de facto. Um objeto exterior é a construção mais simples que utilizamos para a maioria dos conteúdos da perceção sensível. Outras são as formas geométricas, os números e a maioria dos conceitos específico-genéricos da física moderna.»

 

Henry Margeneau, Filosofia da Natureza, in F. Heinemann, A filosofia do século XX, pp. 368-375

 


 

«Sendo, à primeira vista, a razão tal como o bom senso, a coisa do mundo mais bem partilhada – ainda que nem todos a usem da mesma maneira – nada existe de mais imediato que o significado de razoável e de racional. Mas, olhando mais de perto a questão cai-se na conta de que a noção de razão é difícil de captar. Evoca simultaneamente um ideal, uma atitude e um método. Fala-se de razão como um sistema de princípios, que o século XVIII com Robespierre, diviniza; ou de um determinado processo de julgar os acontecimentos que nos dizem respeito; ou de uma regra de conhecimento. Vejamos apenas, a título de exemplo, alguns dos vários usos da palavra razão nos textos.

«A  guerra interior da razão contra as paixões», diz Pascal, «fez com que aqueles que quiseram a paz se tivessem dividido em dois grupos. Uns quiseram renunciar às paixões e transformaram-se em deuses; outros quiseram renunciar à razão e transformaram-se em brutos animais... Mas, uns e outros não o conseguiram, e a razão não deixa de estar presente tanto a acusar a baixeza e injustiça das paixões como a perturbar o descanso dos que a elas se entregam; as paixões permanecem vivas até naqueles que preferem renunciar-lhes» (Pascal, Pensées).

A razão de que fala Pascal é uma espécie de consciência que o Homem tem da própria dignidade e dos fins para que nasceu e continuamente lhe vai mostrando como que um modelo ideal daquilo que deve ser e fazer. (...)

Mas quando o mesmo autor afirma que a geometria nos mostra «o verdadeiro método de conduzir a razão»; que significar outra coisa; que é a faculdade de conhecer o verdadeiro. (...)

Condorcet escreve (...):

«O rápido triunfo da razão e da liberdade vingou o género humano» (Condorcet, L’esprit géometrique). A razão, aqui, é a luz da inteligência descobrindo os princípios naturais do conhecimento certo e da ação justa. É o ideal para que se voltam os homens do século XVIII, contrastando-o com as perversões que denunciam na sociedade do seu tempo.

Finalmente Renan, na sua Priére sur L’Acropole, ao falar muito justamente da arquitetura efémera das catedrais, diz:

«São fantasias de bárbaros que pensam fazer algum bem fora das regras que traçaste, Razão, aos teus seguidores». (Renan, IX. Époque)

Esta razão é simultaneamente um ideal w e um método, nome que Renam dá ao pensamento crítico bem elaborado, reconduzindo às dimensões do Homem as miragens que a fantasia se atreve a criar.

Sem dúvida, podemos dizer que todos estes usos da palavra razão se interrelacionam, exprimindo talvez, para uma dada época, num determinado sector da civilização, uma maneira comum de pensar a situação do Homem perante os acontecimentos da própria história e das coisas de que deseja apropriar-se, pela especulação ou pela ação. É que a razão só pode definir-se utilmente num contexto; não é uma noção simples e imediatamente dada, mas um dos complexos culturais mais ricos de sentido como tema de observação e de reflexão.

 

Gilles-Gaston Granger, A Razão, Lisboa, Edições 70, pp. 9-11


rotasfilosoficas às 11:08

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