Ao contrário do passado, hoje – e talvez porque vivemos num período de incertezas em que há pouco tempo e/ou até falta tempo para pensar/refletir – deixámos as fórmulas e os discursos racionalistas/intelectualistas, pois procuramos um verdadeiro “não-pensamento” que ilumine e/ou esclareça a nossa ação, isto é, compreendemos claramente que o centro da nossa comunicação com o outro reside na questão das emoções e de saber como transmiti-las/geri-las e não num discurso oral/escrito conduzido por uma razão puramente racional. Por outras palavras, porque habitamos num mundo em que por razões político-económicas a sociedade se “alimenta” da própria sociedade, onde o “ter” impera sobre o “ser”, aonde predomina o culto da imagem, mas uma imagem quase vazia de conteúdo (Lipovetszy), ora, esta é simultaneamente uma sociedade que nos conduziu e conduz cada vez mais a estados de angústia e de desespero, ou melhor, de quase precipício coletivo e que aponta avassaladoramente para a tragédia. Uma forma de comprovar isto talvez seja o aumento do número da taxa de suicídios, sobretudo ao nível infantil e em países altamente desenvolvidos. Mas, qual a causa apontada para esta situação?
Obviamente, serão muitas, e a toxicodependência pelo consumo é uma delas. Mas a tensão social atual muito se deve há má gestão das emoções no relacionamento interpessoal e intrapessoal. O modelo de sociedade hoje não é nem o desejável nem sustentável, e a promessa de felicidade no consumo e no “ter” fez com que o indivíduo se esquecesse de si e do seu autoconhecimento (ser), até mesmo como forma de se consciencializar dessa prometida felicidade, que ao que parece apresenta maiores índices em países onde os cidadãos possuem escassos recursos económicos como a Costa Rica, a República Dominicana e a Guatemala, em vez das superpotências como os Estados Unidos, Canadá ou qualquer país europeu. Então, neste contexto, que importância tem a inteligência emocional e como trabalhá-la no relacionamento inter e intrapessoal? E qual a sua “utilidade” no papel do profissional de educação?
Aquele que por muitos é considerado o pai da Inteligência Emocional, Peter Salovey, refere declaradamente que o sujeito que tem «uma maior certeza sobre os seus sentimentos e também um maior controlo sobre a sua vida, agirá com maior segurança nas suas decisões», e isto é fundamental no presente e futuro, pois quem não conseguir gerir as emoções travará uma luta constante contra uma sensação de angústia e demorará imenso tempo a recuperar de situações e problemas que surgirão ao longo da vida. Aliás, o educador como modelo mas também como pessoa, deverá ser extremamente abalizado/apto nesta área como forma de se preparar a si e aos outros para um novo mundo que está em mudança constante. Dito de outra forma, a boa gestão da inteligência emocional será mais importante do que propriamente algumas competências técnicas/cognitivas que a pessoa possa possuir, pois além da capacidade de perceber e exprimir a emoção, assimilá-la ao pensamento, compreender e raciocinar com ela, e saber regulá-la em si próprio e nos outros, esta competência possibilita a autoconsciência, isto é, reconhecermos a presença de um sentimento na altura em que ocorre e hoje sabemos que as emoções orientam a nossa navegação pelas deliberações da vida (Daniel Goleman, 1998).
Em suma, e pensando na missão do educador, devemos preparar os nossos alunos para uma inteligência emocional bem desenvolvida pois eles terão melhor facilidade de integração e de relacionamento, adaptando-se com sucesso à dinâmica organizacional de um mundo que está em metamorfose contínua e que será amanhã bem diferente do que é hoje.
Miguel Alexandre Palma Costa
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