«Enquanto penso dou pequenos toques com os dedos na mesa. Este gesto não é o produto de uma intenção, de uma determinação voluntária. Não tem uma finalidade pelo menos para a minha consciência [...]. O batimento dos dedos na mesa [...] [é] mecânico e não [...] [manifesta] nenhuma preferência: exterior a mim, por assim dizer, [...] [é-me] indiferente.
Posso praticar esgrima para manter a forma ou para passar o tempo mesmo que para isso tenha de interromper a redacção deste livro. Aqui já estamos perante uma conduta que implicou uma preferência, um juízo de preferência: “Vale mais praticar esgrima do que aborrecer-me” ou então “Vale mais manter a minha condição física por meio da prática desportiva do que enfraquecê-la e perdê-la mesmo que para isso tenha de momentaneamente abandonar ou preterir o meu trabalho”.
Tais juízos têm o nome de juízos de valor. Implícitos ou explícitos, claramente pensados ou não, acompanham toda e qualquer acção.
A filosofia da acção desemboca necessariamente numa filosofia dos valores. Se agimos, com efeito, é porque julgamos que vale a pena agir desta ou daquela maneira. Não é indiferente agir de uma maneira ou de outra. Um acto é aos nossos olhos mais precioso ou valioso do que outro e essa valia (valência) é a justificação do nosso esforço.»
Verge-Huisman, Nouveau Cours de Philosophie - La pratique et les Fins Tomo IV, Paris, Fernand Nathan, s.d., pp. 23-24