
Saramago não deixa de ser polémico. O prémio Nobel de 1998 proferiu ontem, no programa "Diga lá exclência", transmitido na RTP2, algumas das suas convicções e posições mais radicais, numa breve análise sobre o mundo, a política, a vida/morte e como gostaria de ser recordado. Aqui ficam dois excertos dessa entrevista:
“… eu não sou um exemplo do que é viver neste mundo. Sou um privilegiado. Mas não posso estar contente. O mundo é o inferno. Não vale a pena ameaçarem-nos com outro inferno porque já estamos nele. A questão é saber como é que saímos dele. […]
Gostaria de ser recordado como o escritor que criou a personagem do cão das lágrimas [Ensaio sobre a Cegueira]. É um dos momentos mais belos que fiz até hoje enquanto escritor. Se no futuro puder ser recordado como "aquele tipo que fez aquela coisa do cão que bebeu as lágrimas da mulher", ficarei contente. Se alguém procurar naquilo que eu tenho escrito uma certa mensagem, atrevo-me pela primeira vez a dizer que essa mensagem está aí. A compaixão dessa mulher que tenta salvar o grupo em que está o seu marido é equivalente à compaixão daquele cão que se aproxima de um ser humano em desespero e que, não podendo fazer mais nada, lhe bebe as lágrimas.”
15.06.2008, Maria José Oliveira (PÚBLICO) e Paulo Magalhães (Renascença)