Este espaço comunicativo foi pensado com o propósito de facultar a todos os interessados um conjunto de reflexões e recursos didácticos relativos ao ensino das disciplinas de Filosofia e Psicologia, acrescentado com alguns comentários do autor.

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Terça-feira, 29 de Abril de 2008

O papel da hipótese na ciência

  «Para um observador superficial, a verdade científica está fora do campo de dúvida; a lógica da ciência é infalível e, se os sábios algumas vezes se enganam, deve-se exclusivamente à ignorância das regras.
As verdades matemáticas derivam de um pequeno número de proposições evidentes por uma cadeia de raciocínios impecáveis; estas verdades impõem-se aos homens e à própria natureza. Comprometem, por assim dizer, o Criador, permitindo-lhe somente escolher entre algumas soluções, relativamente pouco numerosas. Bastar-nos-ão algumas experiências para conhecer a escolha que fez. De cada experiência poderá sair uma multidão de consequências, por uma série de deduções matemáticas, oferecendo cada uma delas o conhecimento de uma parcela do Universo.
Para os estudantes do liceu que aprendem as primeiras noções de física, e para muita gente, reside aqui a origem da certeza científica. Assim compreendem o papel da experimentação e das matemáticas. Do mesmo modo o compreendiam, há cem anos, muitos sábios que julgavam poder construir o mundo pedindo o menos possível à experiência.
Depois de se ter reflectido um pouco, notou-se o lugar ocupado pela hipótese; verificou-se que o matemático não poderia prescindir dela e que o mesmo se passava com o experimentador. Perguntou-se, então, se todas estas construções eram suficientemente sólidas e admitiu-se que um simples sopro as poderia derrubar. Ser céptico a tal ponto é ainda ser superficial. Duvidar de tudo ou acreditar em tudo são duas soluções igualmente cómodas, porque uma e outra nos dispensam de reflectir.
Em vez de pronunciar uma condenação sumária, devemos antes examinar com cuidado o papel da hipótese; reconheceremos não só que é necessária, mas também que, a maior parte das vezes, é legítima. Descobriremos, além disso, que existem muitas espécies de hipóteses, que umas são susceptíveis de verificação e que, uma vez confirmadas pela experiência, se tornam fecundas; que outras, sem nos poderem induzir em erro, podem ser úteis na fixação do nosso pensamento, e, finalmente, que outras só são hipóteses na aparência, não passando de definições ou de convenções disfarçadas.
Estas últimas encontram-se mais frequentemente nas matemáticas e nas ciências suas auxiliares. Daí deriva justamente o rigor destas ciências; estas convenções são o produto da livre actividade do nosso espírito que, neste domínio, não conhece obstáculos. Neste campo, o nosso espírito pode afirmar porque é legislador; mas entendamo-nos: estas leis impõem-se a nossa ciência, que, sem elas, seria impossível; mas não se impõem à natureza. Serão, portanto, arbitrárias? Não, porque seriam estéreis. A experiência deixa-nos livre a nossa escolha, mas guia-nos, ajudando a discernir o caminho mais cómodo. As nossas leis são, portanto, como as de um príncipe absoluto, mas prudente, que consultasse o seu Conselho de Estado. [...]
O método das ciências físicas repousa sobre a indução, que nos leva a esperar a repetição dum fenómeno quando se produz as circunstâncias em que se produziu pela primeira vez. Se todas estas circunstâncias pudessem reproduzir-se simultaneamente, este princípio poderia ser aplicado sem receio: mas isto nunca acontecerá; faltarão sempre algumas destas circunstâncias. Poderemos estar absolutamente seguros de que não terão importância? Evidentemente que não.
Poderá ser verosímil, mas não poderá ser rigorosamente certo. Daqui resulta o papel considerável da noção de probabilidade nas ciências físicas.»
 
Poincaré, H., Ciência e Hipótese, Lisboa, Ed. Panorama, 1970, 13-17.
 

rotasfilosoficas às 17:11

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Sexta-feira, 25 de Abril de 2008

25 de Abril, sempre!

Hoje comemora-se o dia da implantação da democracia em Portugal. É, provavelmemte, altura de fazer um balanço... e verificar que o ideal de Abril... , murchou, mas o cravo... ainda vive! Viva a Liberdade, viva Abril!!! 


rotasfilosoficas às 13:17

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Quinta-feira, 24 de Abril de 2008

Sócrates e a douta ignorância

«Perante isto, um ou outro dentre vós talvez seja tentado a perguntar: “mas, no fim de contas, Sócrates, em que te ocupas? Donde virão essas calúnias que te visam? Porque, na realidade, se nada fazes de anormal, como se explica que falem mal de ti? Se vivesses como toda a gente, como se formaria essa tua reputação? Diz-nos, tu mesmo, como se terá dado isto, se não queres que procuremos uma explicação, para nosso uso.”
Observação inteiramente legítima, concordo. Por isso vou tentar explicar o que me deu esta agradável notoriedade. Prestai, pois, atenção. [...]
Efectivamente, Atenienses, possuo uma ciência; a ela devo essa reputação. Que espécie de ciência? A ciência que diz respeito ao homem.
Essa ciência é talvez justo dizer que a possuo; enquanto aqueles a quem tenho vindo a referir-me possuem uma outra, que é, sem dúvida, mais que humana; pelo menos, não sei defini-la de outro modo; o certo é que, por mim, não a possuo e, se alguém ma atribuir, mente e procura caluniar-me. [...]
Conheceis certamente Querofonte. Éramos amigos de infância. Ele, como amigo do povo que foi, participou convosco do exílio de que vos lembrais e regressou aqui convosco. Não ignorais como era o seu carácter, indomável em tudo o que empreendia. Ora, um dia, estando em Delfos, ousou fazer à divindade a seguinte pergunta: [...] se haveria alguém que fosse mais sábio do que eu. Ora, a Pitonisa respondeu-lhe que ninguém existia mais sábio. [...]
Quando tomei conhecimento dessa resposta oracular, perguntei a mim próprio: «vejamos o que significa a sentença da divindade. Qual será o seu sentido oculto? Tenho a consciência, por mim, de que não sou sábio, nem pouco, nem muito. Por conseguinte, que quererá ela dizer ao afirmar que sou o mais sábio? A divindade não pode falar contra a verdade. Isso não é possível.”
Por muito tempo, estive assim, sem atingir a compreensão da sentença oracular. Por fim, ainda que contrafeito, decidi-me a verificar a coisa do seguinte modo:
Principiei por procurar um dos homens que entre nós passavam por sábios, persuadido de que em face dele poderia ver se a palavra oracular era ou não fundada. Se não fosse, poderia dizer claramente à divindade: “eis, afinal, um homem mais sábio do que eu, quando tu me proclamaste o mais sábio.” Procurei conhecer a fundo o referido homem. Escusado é dizer o nome; era um dos nosso estadistas. Ora, dessa experiência de convívio, eis a impressão que colhi, Atenienses. Certifiquei-me que o personagem parecia sábio aos olhos de muitas pessoas e sobretudo aos olhos do mesmo, mas que de modo algum o era. E, então, procurei demonstrar-lhe que, julgando-se sábio, não o era. O resultado foi que recaiu sobre mim a sua inimizade, assim como a de diversas pessoas que testemunharam a cena. Retirei-me, dizendo para comigo: “afinal de contas, sou mais sábio do que ele. De facto, é possível que nem um nem outro de nós os dois saiba coisa alguma que preste; simplesmente, ele julga saber, enquanto eu não creio saber coisa alguma. Parece-me, enfim, que sou, ainda que muito pouco, um pouco mais sábio do que ele, visto pelo menos reconhecer não saber o que não sei.” Em seguida, procurei um segundo personagem, um daqueles que passavam por ser ainda mais sábios. E a impressão que obtive foi idêntica. Daí resultou ter provocado também a sua inimizade e de muitos outros. Não obstante, prossegui, embora compreendendo, não sem pesar e algumas apreensões, que estava, desse modo, a criar inimigos. Acima de tudo, porém, considerei o dever de me pôr ao serviço da divindade. Impunha-se-me, por conseguinte, sempre em busca do sentido do oráculo, procurar ou visitar todos os que passavam por possuir algum saber.
Ora, pelo cão infernal, Atenienses – o meu dever é dizer-vos a verdade – eis o que, de um modo geral, reconheci e verifiquei. Os de maior renome deixaram-me a impressão, com poucas excepções, de serem os mais deficientes; enquanto ou outros, os que passavam por modestos, me pareceram mais sãos de espírito.
Permiti-me que descreva um pouco melhor ainda essa inquirição, porque ela foi um autêntico ciclo de trabalhos que efectuei, a fim de verificar o oráculo.
Após os homens de Estado, procurei os poetas, autores de tragédias, compositores de ditirambos e outros, dizendo para comigo que, desta feita, me certificaria da inferioridade do meu saber. Fazendo-me acompanhar dos poemas que me pareciam mais talentosamente elaborados, abordava os poetas e pedia-lhes que mos explicassem; era, ao mesmo tempo, uma maneira de me instruir junto deles. Neste ponto, juizes, a custo me decido a dizer-vos a verdade. Mas, seja como for, é preciso dizê-la. A verdade é que todos, ou pouco menos, os que assistiam a essas conversações poderiam ter falado melhor do que esses autores acerca das suas obras.
Aqui está também ao que fui levado a pensar dos poetas; as suas criações eram devidas, não ao seu saber, mas a um dom natural, a uma inspiração divina análoga à dos profetas e dos adivinhos. Estes dizem igualmente muitas e belas coisas, mas não têm a consciência do que dizem. Tal é, precisamente, segundo me persuadi, o caso dos poetas. Ao mesmo tempo, descobri que eles, por virtude do seu talento, julgavam ser os mais sábios dos homens em muitas outras coisas, não o sendo, todavia. Por isso os deixei, pensando que possuía sobre eles o mesmo ascendente que reconhecera possuir em face dos estadistas. Para terminar, procurei os Artistas. Porque tinha a consciência de não saber, digamos, coisa alguma e ter a certeza de encontrar entre eles homens que sabiam muitas e belas coisas. Desta vez não me enganei: sabiam de facto coisas que eu não sabia e nisto eram mais sábios do que eu. Somente, Atenienses, esses bons artistas e artífices deram-me a impressão de terem a mesma deficiência que os poetas. Na realidade, sabiam superiormente do seu ofício e todos pareciam acreditar que tudo conheciam, incluindo as coisas mais difíceis, e essa ilusão mascarava o seu saber real. De maneira que, para justificar o oráculo, fui levado a perguntar a mim mesmo se não seria de facto melhor ser tal qual era, desprovido do seu saber mas também da sua ignorância, ou possuir, como eles, a ignorância com o saber. Respondia ao oráculo assim como a mim próprio, reconhecendo que mais me valia ser como era. [...]
No fundo, [o oráculo] queria dizer: “humanos, entre vós, o mais sábio é aquele que sabe, como Sócrates, que, no fim de contas, o seu saber é nulo.” Esta indagação, prossigo-a ainda hoje através da cidade e, obedecendo ao oráculo, continuo a interrogar quem quer que me pareça sábio, seja cidadão ateniense ou estrangeiro. E, quando se me afigura que o homem que interrogo não é sábio, é com o fim de dar razão ao deus que procuro pôr em evidência a sua ignorância.»
 
Platão, Apologia de Sócrates, trad. de Sant’Anna Dionísio, Lisboa, Seara Nova, 1961, pp. 22-27.

rotasfilosoficas às 14:51

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