Este espaço comunicativo foi pensado com o propósito de facultar a todos os interessados um conjunto de reflexões e recursos didácticos relativos ao ensino das disciplinas de Filosofia e Psicologia, acrescentado com alguns comentários do autor.

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Sexta-feira, 22 de Janeiro de 2010

O sagrado e o Profano

 

 
«Qualquer concepção religiosa do mundo implica a distinção do sagrado e do profano, opõe-se ao mundo em que o fiel se entrega livremente às suas ocupações, exerce uma actividade sem consequências para a sua salvação, um domínio onde o temor e a esperança o paralisam alternadamente, onde, como à beira de um precipício, o mínimo desvio no mínimo gesto pode perdê-lo irremediavelmente. Com toda a certeza, tal distinção nem sempre basta para definir o fenómeno religioso, mas pelo menos fornece a pedra-de-toque que permite reconhecê-lo com a maior segurança. De facto,seja qual for a definição que se proponha da religião, é notável que ela envolva esta oposição do sagrado e do profano, quando não coincide pura e simplesmente com a mesma oposição. A maior ou menor prazo, através de medições lógicas ou de verificações directas, todos nós somos levados a admitir que o homem religioso é antes de mais aquele para quem existem dois meios complementares: um onde ele pode agir sem angústia nem temor, mas onde a sua acção não compromete senão a sua pessoa superficial, outro onde um sentimento de dependência íntima retém, contém e dirige cada um dos seus impulsos e ondeele se vêempenhado sem reserva. Estes dois mundos, o do sagrado e do profano, apenas se definem rigorosamente um pelo outro. Excluem-se e supõem-se. Em vão se tentaria reduzir a sua oposição a qualquer outra: ela apresenta-se comoum autêntico dado imediato da consciência. [...] O sagrado pertence como uma oportunidade estável ou efémera a certas coisas (os instrumentos do culto), a certos seres (o rei, o sacerdote), a certos espaços (o templo, a igreja), a certos tempos (o domingo, o dia de Páscoa, de Natal, etc.) [...]. É uma qualidade que as coisas não possuem por si mesmas: acrescenta-se-lhes uma graça misteriosa. ‘O pássaro que voa – explicava a Miss Fletcher um Índio Dakota – pára a fim de fazer o seu ninho. O homem que anda, pára onde lhe apetece. Omesmo acontece com a divindade: o Sol é um lugar onde ela parou, tal como as árvores e os animais. Por isso se lhes reza pois atinge-se o lugar onde o sagrado permanece e assim se obtém dele a assistência e a benção.’»
 
Caillois, Roger, O Homem e o Sagrado,Lisboa,Edições 70, 1988, pp. 17-19.
 

«O sagrado aparece como uma categoria da sensibilidade. Na verdade, é a categoria sobre a qual assenta a atitude religiosa, aquela que lhe dá o seu caracter específico, aquela que impõe ao fiel um, sentimento de respeito particular, que presume a sua fé contra o espirito de exame, a subtrai da discussão, a coloca fora e para além da razão.
‘É a ideia-mãe da religião’, escreve H. Hubert. ‘Os mitos e os dogmas analisam-lhe o conteúdo a seu modo, os ritos utilizam-lhe as propriedades, a moralidade religiosa deriva dela, os sacerdócios incorporam-na, os santuários, lugares sagrados e monumentos religiosos fixam-na ao solo e enraízam-na. A religião é a administração do sagrado.’
É impossível acentuar com mais força até que ponto a experiência do sagrado vivifica o conjunto das diversas manifestações da vida religiosa. Esta apresenta-se como a soma das relações do homem com o sagrado. As crenças expõem-nas e garantem-nas. Os ritos são os meios que as asseguram na prática. [...]
É do sagrado, com efeito, que o crente espera todo socorro e todo o êxito. O respeito que ele lhe testemunha é feito simultaneamente de terror e de confiança. [...]
Pouco importa o modo como ele imagina esta origem suprema da graça ou das provações: Deus universal omnipotente das religiões monoteístas, divindades protectoras das cidades, almas dos mortos, força difusa indeterminada que dá a cada objecto a sua excelência na respectiva função, que torna a canoa rápida, a arma mortífera, o alimento nutritivo. Por muito evoluída ou por muito grosseira que a concebamos, a religião implica o reconhecimento desta força com a qual o homem deve contar. Tudo o que se lhe afigure receptáculo dela surge a seus olhos como sagrado, temível, precioso. Pelo contrário, eleencara aquilo que se encontra privado dela como inofensivo, sem dúvida, mas igualmente como impotente e sem atractivo. O profano só pode ser desdenhado, ao passo que o sagrado dispõe, para atrair, de uma espécie de dom de fascinação. Ele constitui, do mesmo passo, a suprema tentação e o maior dos perigos. Terrível, ele impõe prudência; desejável, convida ao mesmo tempo à audácia.»
 
Caillois, Roger, O Homem e o Sagrado, Lisboa,Edições 70, 1988, pp. 20-22.

rotasfilosoficas às 20:07

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Sexta-feira, 8 de Janeiro de 2010

Da arte de persuadir

 
«A arte de persuadir tem uma relação necessária com a maneira com que as pessoas consentem naquilo que se lhes propõe, e nas condições das coisas em que se quer que elas acreditem.
Ninguém ignora que existem duas entradas por onde as opiniões são recebidas na alma, que são o seus dois principais poderes: a inteligência e a vontade. A mais natural é a inteligência, porque só se poderiam admitir as verdades demonstradas; mas a que mais frequentemente se acolhe, ainda que contra a natureza, é a da vontade, porque todos os homens são quase sempre lavados a crer não no que é provado, mas no que lhes agrada.
Esse é um caminho rasteiro, indigno e estranho: também toda a gente o desaprova. Cada qual faz profissão de não acreditar e mesmo de não gostar senão do que merece crédito.
Aqui não me refiro às verdades divinas, que eu não poderia sujeitar à arte de persuadir, já que elas estão infinitamente acima da natureza: só Deus as pode colocar na alma, e pela maneira que lhe apraz. […]
E daí parece que, seja o que for que se queira persuadir, é necessário que se leve em conta a pessoa a quem se via, cujo espírito e coração é preciso conhecer, e quais os princípios que ela aceita, quais as coisas que ela ama; e consequentemente considerar, no caso de que se trata, quais são as relações que ela guarda com os princípios visados, ou com os objectivos deliciosos, pelos encantos que se lhe propiciam.
De modo que a arte de persuadir consiste tanto em agradar quanto em convencer, dado que os homens se governam mais pelo capricho do que pela razão.»
 

Pascal, B., Da arte de Persuadir, São Paulo, Landy Editora, 2005. pp.9-14.


rotasfilosoficas às 19:02

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Quinta-feira, 7 de Janeiro de 2010

A educação como possibilidade...

 

 

 

«Não gostaria de ser homem ou de ser mulher se a impossibilidade de mudar o mundo fosse algo tão óbvio quanto é óbvio que os sábados precedem os domingos.
Não gostaria de ser mulher ou homem se a impossibilidade de mudar o mundo fosse verdade objectiva que puramente se constatasse e em tomo de que nada se pudesse discutir.
Gosto de ser gente, pelo contrário, porque mudar o mundo é tão difícil quanto possível. É a relação entre a dificuldade e a possibilidade de mudar o mundo que coloca a questão da importância do papel da consciência na história, a questão da decisão, da opção, a questão da ética e da educação e de seus limites.
A educação tem sentido porque o mundo não é necessariamente isto ou aquilo, porque os seres humanos são tão projectos quanto podem ter projectos para o mundo. A educação tem sentido porque mulheres e homens aprenderam que é aprendendo que se fazem e se refazem, porque mulheres e homens se puderam assumir como seres capazes de saber, de saber que sabem, de saber que não sabem. De saber melhor o que já sabem, de saber o que ainda não sabem. A educação tem sentido porque, para serem, mulheres e homens precisam de estar sendo. Se mulheres e homens simplesmente fossem não haveria porque falar em educação. […]
 
O discurso da impossibilidade de mudar o mundo é o discurso de quem, por diferentes razões, aceitou a acomodação, inclusive por lucrar com ela. A acomodação é a expressão da desistência da luta pela mudança. Falta a quem se acomoda (ou quem se acomoda fraqueja), a capacidade de resistir. É mais fácil a quem deixou de resistir, ou a quem sequer foi possível em algum tempo resistir, aconchegar-se na mornidão da impossibilidade do que assumir a briga permanente e quase sempre desigual em favor da justiça e da ética.
Mas, é importante enfatizar que há uma diferença fundamental entre quem se acomoda perdidamente desesperançado, submetido de tal maneira à asfixia da necessidade, que inviabiliza a aventura da liberdade e a luta por ela, e quem tem, no discurso da acomodação, um instrumento eficaz de sua luta – a de obstaculizar a mudança. O primeiro é o oprimido sem horizonte; o segundo, o opressor impenitente. […]
Gostaria de sublinhar, na linha destas considerações, que o exercício constante da “leitura do mundo”, demandando necessariamente a compreensão crítica da realidade, envolve, de um lado, sua denúncia, de outro, o anúncio do que ainda não existe. A experiência da leitura do mundo que o toma como um texto a ser “lido” e “reescrito” não é na verdade uma perda de tempo, um bla-bla-blá ideológico, sacrificador do tempo que se deve usar, sofregamente, na transparência ou na transmissão dos conteúdos, como dizem educadores ou educadoras “pragmáticos”. Pelo contrário, feito com rigor metódico, a leitura do mundo – que se funda na possibilidade que mulheres e homens, ao longo da longa história, criaram de inteligir a concretude e de comunicar o inteligido – se constitui como factor indiscutível de aprimoramento da linguagem. A prática de constatar, de encontrar a ou as razões de ser do constatado, a prática de denunciar a realidade constatada e de anunciar a sua superação, que fazem parte do processo da leitura do mundo, dão lugar à experiência da conjectura, da suposição, da opinião a que falta porém fundamento preciso. Com a metodização da curiosidade, a leitura do mundo pode ensejar a ultrapassagem da pura conjectura para o projecto de mundo.
A denúncia e o anúncio criticamente feitos no processo de leitura do mundo dão origem ao sonho por que lutamos. Este sonho ou projecto que vai sendo perfilhado no processo da análise crítica da realidade que denunciamos está para a prática transformadora da sociedade como o desenho da peça que o operário vai produzir e que tem em sua cabeça antes de fazê-la está para a produção da peça.
Coerente com a minha posição democrática, estou convencido de que a discussão em torno do sonho ou do projecto de sociedade por que lutamos não é privilégio das elites dominantes nem tampouco das lideranças dos partidos progressistas. Pelo contrário, participar dos debates em torno de um projecto diferente de mundo é um direito das classes populares que não podem ser puramente “guiadas” ou empurradas por suas lideranças até o sonho.
Com a invenção da existência que mulheres e homens criaram com os materiais que a vida lhes ofereceu, se lhes tornou impossível a presença no mundo em referência a um amanhã. A um amanhã ou a um futuro cuja forma de ser, porém, jamais é inexorável. Pelo contrário, é problemática. Um amanhã que não está dado de antemão. Preciso de lutar para tê-lo. Mas preciso de ter dele também um desenho enquanto luto para construi-lo, como o operário precisa do desenho da mesa na cabeça antes de produzi-la. Este desenho é o sonho por que luto.
É neste sentido, entre outros, que a pedagogia radical jamais pode fazer nenhuma concessão às artimanhas do “pragmatismo” que reduz a prática educativa ao treinamento técnico-científico dos educandos. Ao treinamento e não à formação. A necessária formação técnico-científica dos educandos por que se bate a pedagogia crítica não tem nada que ver com a estreiteza tecnicista e cientificista que caracteriza o mero treinamento. É por isso que o educador progressista, capaz e sério, não apenas deve ensinar muito bem sua disciplina, mas desafiar o educando a pensar criticamente a realidade social, política e histórica em que é uma presença. […]
Ao sublinhar a importância fundamental da ciência, a educadora progressista deve enfatizar, também, aos […] pobres como aos ricos o dever que temos de permanentemente nos indagarmos em tomo de a favor de quê e de quem fazemos ciência.
Ajudar na elaboração do sonho de mudança do mundo como na sua concretização, de forma sistemática ou assistemática, na escola, como professor de matemática, de biologia, de história, de filosofia, de problemas da linguagem, não importa de quê, em casa como pai ou como mãe, em nosso trato permanente com filhas e filhos, em nossas relações com auxiliares que connosco trabalham, é tarefa de mulheres e de homens progressistas. De homens e de mulheres que não apenas falam de democracia mas a vivem, procurando fazê-la cada vez melhor.
Se somos progressistas, realmente abertos ao outro e à outra, devemo-nos esforçar, com humildade, para diminuir, ao máximo, a distância entre o que dizemos e o que fazemos.
Não podemos falar a nossos filhos, ou em sua presença, de um mundo melhor, menos injusto, mais humano e explorar quem trabalha connosco. Podemos às vezes pagar melhor salário, no entanto caímos na cantilena hipócrita segundo a qual “a realidade é assim mesmo e que não sou eu só que salvarei o mundo”. É preciso testemunhar a nossos filhos que é possível ser coerente, mais ainda, que ser coerente é um final de inteireza de nosso ser. Afinal a coerência não é um favor que fazemos aos outros, mas uma forma ética de nos comportar. Por isso, não sou coerente para ser compensado, elogiado, aplaudido.
Nem sempre fácil de ser assumida, a busca da coerência educa a vontade, faculdade fundamental para o nosso mover-nos no mundo. Com a vontade enfraquecida é difícil decidir, sem decisão não optamos entre uma coisa e outra, não rompemos.»
 

Paulo Freire, 1997


rotasfilosoficas às 12:09

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