Este espaço comunicativo foi pensado com o propósito de facultar a todos os interessados um conjunto de reflexões e recursos didácticos relativos ao ensino das disciplinas de Filosofia e Psicologia, acrescentado com alguns comentários do autor.

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Terça-feira, 26 de Janeiro de 2021

Dispersos de um confinamento (III)

 

 

Miguel A. Palma Costa.jpg

 

 

TEMPO

 

Miguel de Cervantes grafou que a “história é émula do tempo, repositório dos factos, testemunha do passado, exemplo do presente, advertência do futuro”, ou seja, uma lição que constantemente devemos revisitar e com a qual muito devemos aprender.

Por outro lado, a imbecilidade e estupidez, são agora alguns dos mais perigosos ‘vícios’ do nosso moderno tempo, e parece que o seu risco – e perigo – de contágio é cada vez maior, mesmo vivendo num mundo onde a informação e o conhecimento estão na palma da mão.

 

 

 

O PASSADO

 

Nelson Mandela deixou-nos a conhecida expressão que “culpar o passado não melhora as coisas”, ou seja, o que está para trás, o que foi feito (ou não) interessa, evidencia os nossos erros e sucessos, as nossas falhas e conquistas, mas não é o suficiente. O tempo e a vida continuam.

Querer apagar/suprimir a história é acalentar a ignorância, extinguir a memória, dissolver a saudade, aniquilar o texto, é dissipar o tempo e abolir (a) cultura(s).

Neste novo e estranho tempo do pós-Covid-19, ignorar ou suprimir o que já foi percorrido – goste-se ou não, querendo (ou não) aceitá-lo e nada aprendendo com ele – é certamente estar condenado a repeti-lo.

Um futuro próspero, creio que só se faz com as “indicações” do passado.

 

 

 

“Não é realista imaginar que uma criança do primeiro ciclo de escolaridade tem as competências de autonomia, de organização, de planeamento, de controlo, de regulação emocional para trabalhar 20 horas por semana autonomamente e cinco horas por semana com o professor”.(...)

“Em primeira instância, a escola tem uma função social e esta função social não é reproduzível à distância.” (...)

“Esta dependência das famílias não é justa, na medida em que há pais que têm capacidade, formação, disponibilidade para apoiar os seus filhos, mas há outros que simplesmente não conseguem e por muito intencionados que estejam sentem-se perdidos e isto também é um enorme acelerador de desigualdades.” (Pedro Cunha)

Alguém, por favor, pode transmitir e explicar isto a alguns educadores/professores, sobretudo quando já levamos dois meses e meio deste modelo de ensino – e que o próprio Secretário Regional da Educação diz que é um “remendo” e não é uma solução para o futuro?

 

 

 

O país já contabiliza 1.383 mortos associados à Covid-19 em 31.946 casos confirmados de infeção. Nas últimas 24 horas, são mais 14 óbitos e 350 infetados, o que representa, em ambos, uma subida de 1,1%.

Mais: desde 8 de maio (2020) que os novos casos não eram acima de 300, e ontem registou-se a primeira vítima mortal de Covid-19 na faixa etária 30-39. 97% dos novos casos surgem agora na região de Lisboa e Vale do Tejo, onde o surto e evolução da pandemia não está a estabilizar, pelo contrário.

Ora, perante todo este cenário, será que quando viajar novamente para o território continental posso pedir para aterrar no aeroporto de Beja em vez de desembarcar no Aeroporto de Lisboa (Aeroporto Humberto Delgado)?

As razões são simples: só foi registada uma morte por covid-19 no Alentejo; há vários municípios que não têm um único caso; Beja tem apenas 15 casos confirmados; a região tem uma gastronomia maravilhosa, gente do melhor que há, cultura e paisagens inigualáveis e fica muito perto do Algarve, mais concretamente daquela que foi considerada uma das 15 “melhores praias do mundo” pela redação da espanhola Condé Nast Traveler, (em 2015), Cacela Velha, uma das joias da ria Formosa, coroada por uma das mais belas povoações algarvias.

 

 

 

Creio que o “estado de graça” do ensino à distância já terminou ou, pelo menos, dá óbvios e naturais sinais disso mesmo.

O ensino à distância – o “Aprender com autonomia”, “Estudo em Casa”, “Telensino”/Telescola, as sucessivas videoconferências ou videochamadas – foi, como sabemos, o remédio “provisório” e o recurso mais à mão para a necessidade de confinamento/isolamento social, por motivos da covid-19. No entanto, tal como no uso incorreto e abusivo de qualquer fármaco, o ensino à distância começa também a acusar (e a causar) “danos”/malefícios na motivação, proveito, ânimo… e no trabalho de ensino e aprendizagem, quer de alunos quer dos professores (os primeiros, já os verbalizam).

Por outras palavras, se em março uma nova e abrupta rotina foi imposta aos estudantes, educadores e professores, passados quase 3 meses, e agora com a decisão de prolongar o calendário escolar, atrasando, assim, o final do ano letivo e o “início do verão” (e férias para alguns), a que se agrega a fadiga intelectual (e física) de todos os intervenientes acima mencionados, este novo modelo de ensino presentemente massificado, começa a exteriorizar que é redondamente ineficiente e ineficaz.

Ontem, senti claramente que lecionava para alunos que já estavam ‘ausentes’ e, hoje, pela primeira vez, uma aluna assistiu e participou, na praia, ao que se produzia na ‘sala de aula virtual’, ao mesmo tempo que se preparava para uma aula de surf. Novos tempos.

 

 

 

É um facto que o "Prós e Contras" continua a ser um programa televisivo onde o debate alargado sobre questões de interesse nacional/internacional, ainda resiste (e subsiste) na televisão pública portuguesa!

É evidente que o vasto auditório deste programa conta com a isenção, rigor e o profissionalismo jornalístico de Fátima Campos Ferreira (e toda a sua equipa)!

É também uma realidade que este programa de informação (e de disputa democrática) respeita a pluralidade de opiniões/apreciações dos diferentes interlocutores convidados que por ali têm passado, que procura ser um local de “encontro da cidadania”… sendo que estes interpretam, julgam e classificam a realidade em função dos seus pontos de vista.

Porém, promover um debate sobre a “Revolução Digital na Educação” sem contar com a presença física – e o seu testemunho – de um professor que esteja, no momento atual, a exercer efetivamente a docência, ou seja, a trabalhar com turmas, com uma heterogeneidade de alunos provenientes de diferentes agregados e contextos familiares e sociais, é, no meu juízo, encerrar o debate em gabinetes e não questionar e elucidar o público sobre importantes aspetos daquilo que está em funcionamento e que pode não ser do conhecimento de parte da sociedade portuguesa.

Em suma, é construir uma impressão (imagem simplificada e favorável para/a alguns) no auditório que pode não corresponder inteiramente à realidade e que não foi sustentada de forma totalmente democrática.

Ontem, no programa televisivo "Prós e Contras" o serviço público falhou!

 

 

 

ENSINO À DISTÂNCIA

 

A ‘solução’ do Ensino à distância, do “aprender com autonomia” e do “Estudo em Casa”, foi uma solução ‘extra-ordinária’, muito aprimorada para este período atípico de confinamento/quarentena forçada por motivo/razão da covid-19, satisfez uma maioria…, mas também confidenciou grandes assimetrias.

Muitos suportaram fastigiosas horas em frente a um computador que obedece a múltiplos programas (uns só descobertos e utilizados agora), aguentaram horários intensos de projeção e programação televisiva com conteúdos instrutivos, alteraram (e deterioraram) as suas vidas pessoal e familiar, transformando o seu domicílio (e refúgio particular) numa pequena sala de aula, ou se preferirem, numa unidade de produção educativa, criaram, inovaram, modernizaram-se… e tudo em nome/benefício dos seus alunos.

Todavia, e ainda este ano letivo não terminou – mas já sabemos que vai ser distendido até finais de junho, com aulas presenciais e à distância – os responsáveis máximos pela Educação já nos dizem que “temos de nos preparar para termos uma conjugação entre ensino à distância e presencial” no próximo ano letivo. (Alguém já está preparado?)

Entretanto, são “inúmeras” – tal como era de esperar – as solicitações de atestados psicológicos e psiquiátricos nas últimas semanas por parte de profissionais do sector, deixando assim muitas turmas sem professores. A pandemia não só nos expulsou das salas de aula, das escolas e das ruas, como tornou mais transparente uma realidade que estava camuflada: os elevados níveis de “burnout”, o stress e a exaustão emocional na classe docente.

Para além disto – e no meu caso pessoal – depois de um primeiro acréscimo de mais 27 alunos às 5 turmas inicialmente atribuídas (perto de 130 alunos), neste final de ano também lecionei a mais 2 alunos do 1º ciclo (4º ano), matérias de 5 disciplinas/áreas paras as quais não estou academicamente habilitado e, agora, creio que estou em boas condições de participar nas suas reuniões finais de avaliação e apresentar uma proposta de nota, até porque passei mais tempo com estes 2 alunos do que com qualquer outro nos últimos 65 dias. Fico, então, a aguardar a convocatória para mais 2 reuniões de avaliação em junho.

 

 

 

Fernando Pessoa tinha total razão quando disse que “não é o trabalho, mas o saber trabalhar, que é o segredo êxito. Saber trabalhar quer dizer: não fazer um esforço inútil” e persistir no esforço até ao fim.

Desde o dia 16 de março que deveria ter seguido o seu conselho e teria poupado muitas horas passadas em frente a um ecrã, e a falar para um microfone, que já dificilmente encontro a olho nu. Enfim, manda quem pode e, neste caso, obedece quem tem prejuízo.

 

 

 

Hoje, uma avaria num dos operadores de telecomunicação da RAM inviabilizou esta nova (e para alguns, “vibrante” e sedutora) forma de ensino à distância.

É verdade que a internet possibilita o acesso, nalguns casos gratuito, noutros pago, a milhares de vídeos educativos, músicas, jogos e exercícios, conteúdos interativos, plataformas digitais, a ‘visitas’ virtuais…, quer a professores e alunos…, e estes são agora – com as escolas fechadas por causa da pandemia da COVID-19 – autênticas ‘escolas’/salas de aula, mas num mundo virtual.

Contudo, quando falha esta nova “janela” para o mundo – talvez a única solução viável para continuar a proporcionar aos alunos uma espécie de continuidade das suas aprendizagens, falha a resposta que o sistema promoveu para este novo, estranho e incerto tempo.

Hoje, um número considerável de alunos não teve o apoio suplementar ou substituto das suas aulas presenciais. Hoje um número considerável de alunos aproveitou o dia de outra maneira e, talvez por apenas algumas horas, foi mais livre!

 

 

 

Não é fácil falar da morte aos mais novos, sobretudo a de alguém próximo… mas ainda é mais difícil falar (e explicar) a uma criança a morte de outra criança.

Dizem-nos que o melhor é expor a verdade, falando da morte como um processo natural que faz parte integrante da vida. Contudo, aquilo que hoje ficamos a saber não se enquadra nesta categoria/descrição.

Não foi uma morte inevitável, não foi uma experiência/situação prevista e aguardada, não foi o culminar de um processo natural e imposto, mas sim um crime, um ato de violência extrema e inqualificável, e agora mais um choque para uma comunidade que dificilmente o conseguirá esquecer e ultrapassar.

Será que aprenderemos algo com mais esta tragédia? Já sabemos, e infelizmente, que mais uma vez o Estado voltou a falhar/fracassar.

Estamos agora todos mais tristes e mais pobres… pois afinal quando uma criança morre, morre a esperança no mundo e de um futuro!

 

 

 

Segundo o ministro, nas salas de aulas terão de ser mantidas “as regras do distanciamento físico”/social, que são agora de dois metros entre cada pessoa/aluno e, cumprindo esta regra, pode, então, ser necessário o desdobramento de turmas.

Todavia, interrogo: e se não existirem professores suficientes para esse desdobramento se efetivar? Consegue o Ministério da Educação – e todos os diretores de escola/agrupamento de escolas – assegurar o número professores suficiente para garantir esta orientação do titular da pasta?

Bem, se tal não for possível, então a carga horária de algumas turmas desdobradas pode ser cortada para 0 horas letivas semanais, pois não existem professores, ou seja, as aulas não serão mantidas para esses alunos.

 

 

Na Assembleia da Madeira um deputado pode votar pela bancada toda. Oposição contesta

Daniel Innerarity escreveu, em 2015, que “algo sério está a passar-se na política e o termo 'indignação' a que ultimamente vem associado reflete-o de forma dramática”.

Aqui está mais um (triste) exemplo.

Assim, o desprezo para com a classe política aumenta e esta reconhece, por esta via, que a maior parte das críticas que lhe são feitas têm razão de ser.

 

 

 

O programa “Negócios da Semana”, moderado por José Gomes Ferreira, contou ontem com a presença do ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, para esclarecer a reabertura da economia.

Gostei, particularmente, de algumas informações que foram transmitidas – peço para escutarem, atentamente, entre os minutos 12 e 14 - e destaco esta afirmação: “O Governo vai assegurar o fornecimento de máscaras para, no caso das escolas, para os funcionários, o pessoal docente e os alunos, toda a comunidade escolar, isso é um compromisso que temos” (minuto 7).

Questiono: será que esta afirmação é extensível à Região Autónoma da Madeira?

 

 

 

Bem, se cerca 30% dos casos dos infetados foi identificado que a transmissão se deu dentro de casa, ora, a partir de hoje já não durmo, não como nem trabalho em casa...

Agora faço tudo isto na varanda! A vista para o oceano Atlântico é maravilhosa e o sol primaveril (espero que não falhe) é rico em vitamina D. Aliás, um estudo recente (2018) diz mesmo que 21% da população portuguesa tem níveis de vitamina D abaixo do recomendado pelas autoridades de saúde.

 

 

 

Em 2019, foi possível comemorar com ‘solenidade’ o 25 de Abril, na CMF.

Estava presente no salão da AMF e assisti à cerimónia. Porém, este ano as celebrações são bem diferentes das anteriores devido a esta pandemia da COVID-19. Creio que este é um motivo acrescido para continuarmos a celebrar o espírito de Abril e não nos resignarmos ao medo, mas sim continuar a resistir e lutar pela defesa dos direitos, liberdades e garantias conquistados pelos militares e depois auxiliados pelo povo, faz hoje 46 anos.

A Revolução de Abril é o acontecimento maior da nossa história recente. Simboliza uma viragem perante tudo o que decorreu durante 48 anos e o desejo de um avanço civilizacional sem precedentes, pôs fim à ditadura fascista e abriu portas ao desenvolvimento e à esperança num futuro melhor.

Obrigado, Capitães de Abril!

 

 

 

A questão/problema da liberdade, praticamente 46 anos pós o 25 de Abril de 1974 – e não esquecendo que foram os militares que a restituíram aos portugueses - é tema que sempre me preocupou. Muito há para dizer sobre uma palavra que é, em certa medida, ‘vaga’, tida como um direito absoluto, mas também um dever, sinal de promessa, respeito, de valor do eu e do outro, de moralidade, princípios… e cada um tem dela uma ideia com a qual a julga e, simultaneamente, sentencia as ações executadas pelo outro.

A pessoa humana define-se pela liberdade, é um facto! Ser homem obriga a ser livre... e a liberdade de pensar é a nossa liberdade de ser, a qual envolve a liberdade de exprimir o pensamento que se concretiza na ação. Contudo, declarações deste género, num mundo que queremos livre constituído por cidadãos de pleno direito, mostram, como bem disse Bertrand Russell, um dos paradoxos dolorosos do nosso tempo, que “reside no facto de serem os estúpidos os que têm a certeza, enquanto os que possuem imaginação e inteligência se debatem em dúvidas e indecisões”.

 

 

 

No dia 4 de novembro de 2011, o economista e filósofo francês, Serge Latouche, começava, num ciclo de conferências no Funchal, por citar Hegel que numa das suas obras sobre o percurso da Razão na história, diz: “os tempos felizes são tempos em que os manuais terão páginas em branco” e, hoje, ao contrário desses tempos, vivemos num período de incertezas e o que falta é tempo para pensar, para deixarmos as fórmulas e os discursos ideológicos que são não-pensamento e procurarmos um verdadeiro pensamento que ilumine a ação. Claramente percebemos que o centro da sua comunicação se centraria na questão e problema do regime democrático contemporâneo e onde ele nos conduziu e quais as vias ou caminhos para um futuro melhor, neste caso, o decrescimento como via opcional a ter em conta e credível".

Reflexão interessante... e podemos agora até perguntar: será que antecipou e o que nos esperava 9 anos depois?

 

 

 

É completamente “insensato” ou até absurdo, sobretudo nesta altura em que todos lutamos contra um vírus que já ceifou mais de 700 vidas entre nós, dividir os portugueses (e originar novas e inúteis guerras ideológicas entre esquerda e direita) sobre se se deve ou não celebrar o 25 de Abril na Assembleia da República, neste ano de 2020.

O que necessita de ser posto em causa não é a sua celebração – essa, inequivocamente, pelo que representa para um país livre e democrático que somos e queremos continuar a ser, deve acontecer – mas a forma ou modo como deve realizar-se, isso sim é questionável/discutível e deve sujeitar-se a todas as orientações/normas decretadas pelo Ministério da Saúde e pela Direção-Geral da Saúde (DGS).

 

 

 

SAUDADE (S)

 

O tempo não pára, é verdade, mas creio que muitos de nós já temos ‘grande saudade’ de um passado recente.

Dizem-nos que este particular sentimento, apego, propósito ou ‘intento’ é muito português…, mas depois de mais uma semana em tele-trabalho, agora chamam-lhe “telensino”, adorava, e mesmo já amanhã (sábado), poder voltar aos corredores e salas de aula da “minha” escola e puder ensinar, presencialmente, aos meus alunos/as.

Sim! Já estou saturado e fatigado de estar sentado diante de um ecrã, de olhar para uma minúscula câmara de filmar e falar para um microfone que nem sei onde está; de fazer e receber telefonemas; de ler e escrever dezenas (ou mesmo centenas) de SMS e e-mails, quase todos os dias, de e para alunos, pais e encarregados de educação; de receber e-mails com propostas de ações de formação e orientações diversas (algumas delas contraditórias); de reuniões e aulas por videoconferência, (síncronas ou assíncronas, como se diz agora, no Skype, Zoom, Meet…); de horas a fio na internet e de alunos perguntarem-me quem lhes paga a fatura dos 'dados' no final do mês. E não se fica por aqui, há mais…

Ora, passado mais de um mês deste confinamento/isolamento social que nos foi imposto pela COVID-19, de viver em “estado de emergência”, que estou certo deixará marcas em muitos de nós, admitido e confesso que tenho já saudades de regressar à vida que tinha antes do dia 14 de março, de retornar à escola, de “cheirar uma sala de aula” e de falar (e ensinar) para jovens alunos feitos de carne e osso, que por vezes falam quando lhes peço para me escutarem e às escondidas manuseiam os seus telemóveis, sabendo que não o devem fazer!

Ah, que saudades de um tempo!

 

 

(Reflexões escritas no 1º confinamento geral pela doença Covid-19, março e abril de 2020)

 


rotasfilosoficas às 19:25

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Segunda-feira, 4 de Janeiro de 2021

Filosofia, Democracia e Verdade

 

 

Verdade.jpg

 

1. A Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura - UNESCO, assinala o dia 19 de novembro de 2020, como o Dia Mundial da Filosofia.

 

Saber com mais de dois milénios e meio de história no ocidente (Mileto, século VIº a.C.), embora tenham existido anteriormente expressões no Oriente e em África, este modo particular de conhecer, pensar e de ser, antecâmara do espanto e da inquietação (esse reino dos porquês, bem difícil de definir), foi no passado – e continua(rá) a ser no presente e futuro – essencial para interpretar, compreender e transformar as sociedades.

 

Num mundo onde o não pensar dá claros indícios de pretender dominar, em que a apatia, indiferença, a mentira (fake news), o relativismo, materialismo, consumismo, individualismo e narcisismo são evidentes e imperantes nas novas relações sociais digitais (as redes), em que a Verdade é subjugada quase por completo à aparência (e opinião), a Filosofia, esse “doce leite da adversidade” (W. Shakespeare) que pretende mudar o olhar a alguém, que influi e conduz uma vida (e que não tem grandes respostas para os múltiplos problemas/questões que esta coloca), é agora mais imprescindível do que nunca. Ora, diante uma pandemia que já matou perto de 1,3 milhões de pessoas em todo o globo – e em mais um momento em que a irracionalidade e o medo parecem querer voltar a triunfar –, prescindir da Filosofia é renunciar ao potencial criativo (e crítico) da humanidade de conceber novas (e boas) ideias, é claudicar e abdicar de um mundo mais tolerante, dialogante, próspero e respeitador. Confesso, o cenário futuro não é muito animador.

 

2. Enquanto escrevo estas linhas, os principais meios de comunicação norte-americanos acabam de declarar Joe Biden como o ‘novo’ (não obstante os seus quase 78 anos) e 46º Presidente dos Estados Unidos da América, nação considerada ainda a maior democracia no mundo, apesar das suas múltiplas imperfeições e disfuncionalidades. Um célere diagnóstico confidencia que há lições pesarosas e angustiantes conclusões a tirar deste último ato eleitoral que bateu um recorde em termos de participação nas urnas, mas no qual as sondagens voltaram a falhar, em que lamentavelmente existiram centenas de conflitos nas ruas – um candidato chegou a incitar à violência, a declarar-se antecipadamente vencedor e não aceita agora sair da Casa Branca –, milhares de mentiras, falsas acusações, difamações, ardilosos tweets, projetos/grupos organizados que minaram candidaturas e para os quais foram angariados vários milhões de dólares…, tudo isto durante um longo período de campanha presidencial. Todo este aglomerado de factos (e muitos outros) demonstram que a Democracia está doente, ou seja, as democracias (representativas) estão em perigo, tanto nos EUA (a pátria das liberdades e dos direitos cívicos) como no resto do mundo, especialmente onde os novos radicalismos de direita – e populismos – estão em ascensão.

 

Diz-nos a história que foi há 2600 anos que os gregos inventaram algo que viria a ter uma importância temporal transcendente, a Democracia (chamaram-lhe dēmokratia), uma forma de resistência à tirania, invenção que na altura não suscitou grande entusiasmo/simpatia entre os ‘cidadãos’ (ninguém antecipou o que viria suceder, mais tarde, por todo o planeta, e o termo guarda ainda cuidadosamente muitos dos seus segredos) e que é contemporânea do despontar da Filosofia na pólis de Atenas (século Vº a.C.). Ora, isto é repetido nos bancos das escolas até aos dias de hoje, mas tal informação/conhecimento é falsa. A palavra “democracia” é bem mais antiga e parece ter surgido 7 a 10 séculos mais cedo, e noutras povoações urbanas do Peloponeso. Todavia, este pequeno sonho de que os homens se podiam organizar e que o fariam através de fóruns ou assembleias, onde debateriam e decidiriam sobre diversos assuntos e problemas da cidade e aprovariam planos de ação, foi uma invenção singular que alterou o curso da história – e que o século XX viria a consagrar (e proclamar) como o principal sistema de governo (um “Bem Universal”), um pouco por todo o lado, apesar de se ter transformado numa formalidade impessoal, uma questão de máquinas de votos e de escrutínios secretos… como apontam alguns críticos.

 

Hoje, tal como a Filosofia, este modo de fazer política vê-se envolto em grande discordância e é, permanente e oportunisticamente, ameaçado de múltiplas maneiras, graças à sua tremenda fragilidade (e ‘pouca’ eficácia), sendo que cresce o número daqueles que já não o consideram desejável e, portanto, abonam que é um regime em fim de linha. Citando Winston Churchill, e porque também sou um otimista nestes espinhosos tempos, aliás “não me parece muito útil ser outra coisa”, de facto, "a democracia é o pior dos regimes, à exceção de todos os outros, e portanto, apesar de todas as imperfeições ou disrupções, é hora de a defender e preservar, mas também refletir e contemplar todas as suas virtudes e vícios.

 

3. Durante quase toda a história da Filosofia, a palavra (e busca pela) “Verdade” é uma permanência constante (Verdade aqui no sentido de uma realidade que é verdadeira, que “é o que é”, diferente das aparências, ilusões, fantasias, ficções, sombras e cópias…).

 

Conta-se que no tempo da sua juventude Platão até tinha alimentado pretensões a uma carreira no mundo da política, mas que rapidamente se desinteressou ao ver a desonestidade e a mentira existente nesta ‘nobre’ arte, no período das Guerras do Peloponeso, para não mencionar as acusações forjadas que enviaram o seu mestre e velho amigo, Sócrates (“o mais justo dos homens daquele tempo”), ao encontro da morte. Qualquer semelhança com o mundo da política atual (não) é mera coincidência! A retórica contemporânea, essa arte de bem falar e de com eloquência persuadir o auditório/público, socorrendo-se cada vez mais da manipulação, da distorção/deturpação, é agora mais rotineira – e serve-se de meios cada vez mais aprimorados – do que nunca (num pequeno exercício contabilístico, só em 2019 foram quase três mil as mentiras ou ‘exageros’ proferidos pelo presidente norte-americano, Donald Trump, mas a pantominice também prolifera na narrativa política nacional e regional). Curiosamente, no texto da Constituição da República Portuguesa, aprovada na sessão plenária de 2 de abril de 1976, não aparece uma única vez redigida a palavra Verdade, facto que pode demonstrar não só o desinteresse por este importante valor da/na democracia, como dá credibilidade (e força) à antiga história da “verdade nua e crua”, que no ornamento retórico se deixou enganar pela mentira, a qual se maquilhou com as suas vestes.

 

Por último, é um facto que o entendimento sobre o conceito de Verdade (e a sua relação com o conhecimento da realidade) sofreu alterações ao longo dos séculos. Platão, na famosa “Alegoria da Caverna” (livro VIIº da República), deu o ponto de partida para essa busca incessante, mas que agora aparenta ter expirado. O nosso até agora único Prémio Nobel da Literatura, José Saramago, diz-nos que a narrativa predominante é de que “não há Verdade”, que modernamente “vivemos no tempo da mentira universal (pois) nunca se mentiu tanto. Vivemos na mentira todos os dias!”. Teimosamente, prossigo a acreditar que Verdade não prescreveu ainda, que a sua busca continua a ser a missão e motivação de muitos – a inspiração de uma vida –, apesar de por vezes ser inconveniente, mas sempre inegociável, inviolável, intemporal (alguns consideram-na também “sagrada”) e um necessário e indispensável pilar da verdadeira Democracia.

 

 

 

Foto MC 2020.jpg

Miguel A. Palma Costa

 

in Diário de Notícias da Madeira, 19 de novembro de 2020

https://www.dnoticias.pt/2020/11/19/239493-filosofia-democracia-e-verdade/

 


rotasfilosoficas às 18:19

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