Tem pouco menos de 2.400 anos que Aristóteles afirmou que “o Homem é por natureza um animal político” (anthropos physei politikon zoon), declaração que confidencia que somos um ser eminentemente social onde se incorpora, entre outros, o elemento político, pois não se pode falar de sociedade sem que se fale da sua organização, regulamentação, coordenação, em suma, ordem.
Ora, logo nas primeiras semanas em que foi decretada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) a pandemia da Covid-19 (e no primeiro confinamento), houve um intenso debate sobre a influência/papel do poder político (Estado) no combate à propagação do novo coronavírus (SARS-COV-2).
De um dia para o outro, vários Governos mandaram (quase) toda a gente para casa, “fecharam” as escolas, as economias, pagaram salários, ‘seguraram’ créditos, criaram novos apoios sociais, controlaram – de forma mais ou menos intimidatória – os movimentos dos cidadãos, encerraram fronteiras…, e após a primeira vaga, planearam e decidiram como e quando “reabrir” as diversas atividades económicas. Por outras palavras, o ressurgimento de um Estado mais musculado, que por força das circunstâncias interrompeu alguns dos nossos mais elementares (e contemporâneos) direitos civis, políticos e sociais, fez rapidamente perceber aos cidadãos mais distraídos o quanto a política infere (e pode deixar marcas) nas nossas vidas, saúde e até morte.
Para as mais jovens gerações, hoje a política é tida como uma atividade desinteressante, vista como qualquer coisa distante, geradora de desconfiança, desagradável, “obscura”, onde impera o secretismo e corrupção, e o modo como os políticos comunicam não os atrai – nem incentiva – a participarem na discussão (e resolução) dos problemas da comunidade onde vivem.
Atenta a esta atual realidade, a escola Secundária de Francisco Franco, instituição que tem um posicionamento de grande abertura à inovação tecnológica e pedagógica, apostou, desde o ano letivo 2019-2020, na introdução da opção, no 12º ano, da disciplina de Ciência Política, na Componente de Formação Específica dos Cursos Científico-Humanísticos. Esta disciplina, como o próprio nome indica, não propõe o início de uma qualquer carreira política, mas atendendo ao seu carácter introdutório, visa simplesmente a formação para o exercício da cidadania e o alargamento dos conhecimentos – e de competências nos jovens e no seu leque de opções para prosseguimento de estudos – numa relevante área do conhecimento, a do estudo dos fenómenos políticos (e seus reflexos nas sociedades) produzidos pelas diferentes formas de manifestação do Poder, quer a nível nacional quer internacional.
Enquanto ciência antiga (à qual muitos estudiosos se dedicaram desde a antiguidade clássica, tais como Hesíodo, Platão, Aristóteles, Cícero…) e ciência nova, que cada vez ganha mais adeptos e emerge em diversos cursos de licenciatura, pós-graduação e mesmo cursos de Ciência Política com os diferentes graus académicos neste ramo do saber, esta, ao nível do ensino secundário, propõe aos jovens alunos um interessante trabalho de pesquisa e de reflexão crítica, mas também lhes solicita que tenham um papel ativo e interventivo nas aulas, de modo a adquirirem competências para assumirem uma atitude igualmente ativa e interventiva na sociedade. Foi isso que se procurou fazer nestes dois últimos anos e, em particular, com a participação dos alunos na 3ª edição do Orçamento Participativo do Funchal (2020), para além de outras atividades realizadas.
A multiplicidade de temas estudados pela Ciência Política é enorme: vão desde as funções e poderes do Estado, as eleições, as diferentes ideologias políticas, o grau de participação dos cidadãos na vida política, finanças públicas, políticas públicas (na saúde, educativas, no desporto…), as instituições políticas nacionais e internacionais, guerra e paz, simplificando, um conjunto muito alargado de matérias estudadas pelos vulgarmente apelidados “politicólogos”. Articulando-se com outras ciências ou disciplinas, onde se destacam, por exemplo, a Economia, o Direito, a História, Filosofia, Psicologia, Estatística, a Geografia e a Sociologia, a Ciência Política é, então, um saber que permite aos alunos familiarizarem-se com os grandes problemas políticos, económicos e sociais do ‘nosso’ tempo, informarem-se sobre os mesmos e adquirirem uma visão (ou perspetiva crítica) que lhes permita aferir dos diferentes interesses em jogo e adquirir autonomia para refletirem (e decidirem) por si próprios. Abreviando, esta é uma disciplina que aposta na estratégia de tentar envolver os jovens nas questões da cidadania e que parte da ideia que é possível tornar a política mais atraente para a ‘geração Z’, aquela que cresce assombrada pelo desemprego, pelas alterações climáticas (e seus efeitos), por mais uma crise económica e social e que começa agora a votar.
Miguel Alexandre Palma Costa
in Revista Leia FF n.º 58, da Escola Secundária de Francisco Franco (Funchal)
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