Este espaço comunicativo foi pensado com o propósito de facultar a todos os interessados um conjunto de reflexões e recursos didácticos relativos ao ensino das disciplinas de Filosofia e Psicologia, acrescentado com alguns comentários do autor.

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Sexta-feira, 31 de Março de 2023

Ver, Ouvir, Sentir e Pensar

 

 

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Dezembro é o último mês do ano, mês de festas e de hiperconsumismo, de troca de presentes, do amigo secreto, da comparência em vários jantares de Natal, de reunião familiar, do solstício de inverno no hemisfério norte – para os cristãos, o mês em que também se celebra o nascimento do menino Jesus –, e este ano o mês em que se disputa a final do Campeonato Mundial de Futebol FIFA-2022, no “apertado” Qatar (e já apelidado de Mundial da discórdia, vergonha e do desrespeito pelos mais elementares Direitos Humanos), não esquecendo que é conjuntamente o período para (alguma) reflexão. Ora, aqui enjeito a minha.

 

O discurso político atual dos nossos governantes fala de uma extensa lista de vantagens ou benefícios, neste contemporâneo modelo liberal/capitalista de sociedade, do mundo digital (e virtual), a nova luz do nosso tempo que transferirá toda informação e conhecimento para o homem “novo” e do futuro. Na Madeira não faltam adeptos – e seguidores – desta (nova) onda do digital, mas ninguém fala (ou está inibido de falar) das eventuais consequências negativas que tudo isto trará e da forma atabalhoada e desacertada como está a ser conduzido o processo. Como muitos outros, não é monitorizado e provavelmente não será avaliado, mas as queixas são já muitas por parte de alunos e professores, isto se alguém os quiser escutar!

 

A anestesia (ou alienação) – e o encantamento – é geral e, portanto, as decisões tomadas no passado (e presente) que visam a vida das atuais e futuras gerações, só serão quiçá analisadas quando estes responsáveis políticos já não ocuparem as cadeiras do poder. Até lá a experiência mostrará que eles (ou eu) estávamos enganados, mas alguns estudos já deixam antever quem é.

 

O plano para a propagação das tecnologias de informação, de comunicação digital e a uniformização educacional e cultural já está traçado, para gáudio de muitos empresários ligados ao sector tecnológico e até dos grandes grupos editoriais nacionais, mas os riscos e contingenciais resultados lesivos da imposição de um certo modelo de gestão pedagógica, isso é algo que ninguém quer ou se atreve a debater. As decisões, como é habitual, são tomadas de cima para baixo e, como estamos todos bem domados ou distraídos com outros afazeres (hipoteticamente) mais importantes, não há um qualquer cidadão que questione ou coloque reservas ao (mal) que está a ser feito.

 

Perante tudo isto é fácil perceber que as atuais (e futuras) gerações não estão a aprender e treinar – e vão desaproveitar – competências e faculdades cognitivas que a minha e as gerações mais antigas desenvolveram nos bancos da escola. Lamentavelmente, alguns jovens já não têm a capacidade de ver e distinguir, com clareza, a realidade da ficção; outros não conseguem estar atentos e ouvir uma simples explicação sobre um qualquer tema/assunto (ou até uma música com mais de dois minutos e meio), para não falar da crescente incapacidade que demonstram em identificar e expressar emoções/sentimentos e a assombrosa rejeição em pensar, esse poder único do ser humano que Pascal chamou de “vontade” e cuja capacidade de simulação ele sabiamente negou às máquinas.

 

1. VER: A visão é porventura o sentido que mais informação nos fornece, talvez o mais importante no nosso processo de crescimento e de aprendizagem. No entanto, muitas vezes não sabemos (queremos) ver – cada um vê o que quer ver e/ou “vê sem ver” –, nem compreendemos a realidade que está à nossa frente. Platão, filósofo ateniense, afirmou que vivemos no mundo do irreal onde tudo o que vemos é somente uma sombra imperfeita de uma realidade mais perfeita, a autêntica realidade. Nesta medida, a (nossa) ignorância, o seu reconhecimento e a curiosidade de quem procura o saber é ainda o verdadeiro caminho para a sabedoria, tal como os gregos do século Vº a.C. vaticinaram. A este propósito, o primeiro e único Nobel da Literatura português (e da língua portuguesa), que se fosse vivo faria 100 anos no passado mês de novembro – e que se dedicou a narrar o desgoverno do mundo (e do nosso país) e a construir alegorias – , José Saramago, referiu que atualmente “nós estamos a viver de facto na Caverna de Platão”, porque as imagens que nos mostram da realidade, de alguma maneira substituíram a própria realidade. O entusiasmante mundo audiovisual, mais o ‘novo’ mundo digital/virtual (que com sofisticados programas controla, manipula e reconstrói a realidade e/ou Verdade), reproduz agora na perfeição a Caverna de Platão. Todos vemos sombras, mas acreditamos piamente que essas sombras são a realidade.

 

2. OUVIR: Um notável professor (e mestre) que tive na UCP referia, com alguma frequência, que “tão ou mais importante do que saber falar é saber escutar”. O estoico Zenão de Cítio afirmou que se “impõe mais ouvir do que falar”. Muitos dos políticos portugueses deviam seguir este preceito. Ora, na sociedade do espetáculo e do supérfluo – onde o ruído persistente sufoca qualquer aprendizagem e dissemina a ignorância –, a arte de saber escutar está cada vez mais em desábito e não é valorizada como competência. Tenho perfeita consciência que alguns dos meus alunos são incapazes de escutar com atenção grande parte da informação (mensagem) que lhes é passada no processo de ensino-aprendizagem, sobretudo quando são obrigados a assistir a aulas de 90 minutos. Rececionam o som, mas são inábeis em compreender e processar internamente tudo o que lhes foi transmitido. Muitos ouvem, mas não escutam ou não gostam de escutar… aliás, infelizmente a maioria das pessoas não perde agora tempo a escutar, uma necessidade e atividade vital que é preciso reaprender e exercitar continuamente.

 

3. SENTIR: Levados por uma frenética e ininterrupta realidade mediatizada e digitalizada, nestes dias (quase) todos experimentamos a febre do Campeonato Mundial de Futebol FIFA-2022, evento que decorre a mais de 7500 km de distância de Portugal e sentimos intensamente as vitórias (e/ou derrotas) da idolatrada seleção. Contudo, já não sentimos (ou não o queremos sentir) o que está aqui bem ao nosso lado. Por exemplo, a escravatura laboral a que centenas de imigrantes são sujeitos nas explorações agrícolas do Baixo Alentejo, a solidão de mais de um milhão de portugueses que vivem sozinhos nas suas casas ou a carência dos 2,3 milhões de cidadãos que vivem abaixo do limiar de pobreza, empregados ou desempregados que passam agora por condições de privação material severa e, nalguns casos, em situação de exclusão social (INE). Desinteressados ou apáticos, também já não reagimos ao progressivo aumento generalizado do custo de vida que compromete a cada dia que passa o orçamento de milhares de famílias e os nossos governantes, como é hábito, desvalorizam este impacto e aproveitam as receitas extraordinárias para saldarem dívidas contraídas num passado recente. Fernando Pessoa diz que “sentir é estar distraído”. Outros concebem-no como algo inútil, mas, creio eu, aqueles que pouco ou já nada sentem (desde o prazer até à dor) estão, por assim dizer, quase mortos. Sentir é viver!

 

4. PENSAR: Há cada vez menos gosto na atividade do pensar e a narrativa de muitos jovens atesta-o. Neste século XXI, dominado pela cultura científico-tecnológica e pela disseminação globalizada de toda e qualquer informação – bem diferente de conhecimento –, amontoada com as fake news das redes sociais (e a nova dependência dos jogos online), parece beneficiar, estimular ou instigar, pelos menos uma larga maioria de cidadãos a não pensarem de forma livre, tolerante e construtiva, ou seja, bem (com ‘qualidade’). A postura do não pensar é cómoda, até “dá prazer”, entusiasma o (novo) homem, beneficia o preconceito e a ignorância, anula a dúvida, cristaliza as “certezas” e, como não consome tempo, “torna a vida mais doce” (Sófocles). Infelizmente, pensar livremente está a deixar de ser um desejo humano. Não dá gosto pensar, bem pelo contrário! Em suma, neste admirável mundo novo o que é tecnológico encanta, satisfaz e parece realizar quase na plenitude o ser humano. Como nos equivocamos! Andamos todos distraídos com o acessório e esquecemos o essencial.

 

 

Miguel Alexandre Palma Costa

(in Ver, Ouvir, Sentir e Pensar — DNOTICIAS.PT)


rotasfilosoficas às 15:29

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