
Por mais estranho que possa parecer, dos mais de seis mil milhões de seres humanos que actualmente existem no mundo, cerca de metade permanece num estado de pobreza absoluta e esta define-se (segundo o Instituto Worldwatch) como «a ausência de rendimentos suficientes em dinheiro ou em espécie para satisfazer as necessidades biológicas mais básicas de alimentação, vestuário e habitação». Ora, é precisamente esta realidade que o vídeo “Chiken à la Carte”, de Ferdinand DiMadura, nos exibe com imagens de significativa dureza e ao mesmo tempo realismo.
A pobreza absoluta é sem dúvida a principal causa do sofrimento humano, e este vídeo mostra-nos precisamente a realidade de um país asiático onde a discrepância entre o rural e o citadino, entre a cultura camponesa (orientada para a auto-suficiência alimentar e uma agricultura familiar) e a vida na cidade (onde as cadeias internacionais de Fast food – MacDonald’s, KFC, Pizza Hut, etc.) são a base de uma nova economia que procura resolver o problema alimentar do mundo, mas que em vez disso parece tê-lo agravado. Ou seja, a fome no mundo não é um fenómeno novo, mas o que se está a passar é um escândalo e uma vergonha: a fome de uns parece ser fonte de lucros do grande capital financeiro e os lucros aumentam na proporção em que aumenta fome.
Por outras palavras, grandes empresas multinacionais parecem estar a aumentar os seus lucros graças ao aumento do preço das sementes e dos cereais, mas também ao aumento dos custos dos transportes e à subida do petróleo. Existe ainda a questão da reserva de terra agrícola para produção dos agro-combustíveis, e tudo isto conduz a aumentos especulativos dos alimentos, o que por sua vez leva ao aumento da fome e subnutrição de milhões de pessoas e esta realidade já não pode ser disfarçada com as “caridosas” ajudas alimentares de países como os EUA ou mesmo a União Europeia. Desta terrível (mas evitável) realidade, onde as crianças são as primeiras e principais vítimas, emerge a todos nós uma obrigação ética de ajudar, ou será que podemos ser moralmente neutros? Isto é, certamente condenaríamos quem enviasse comida envenenada às crianças que surgem no filme e assim lhes causasse a morte, mas não condenamos quem nada faz – isto é, provavelmente grande parte de nós – para impedir que as mesmas morram à fome.
O ser humano, que naturalmente é definido pela sua acção, relativamente à questão da pobreza e à sua face mais visível e agonizante que é a fome, parece ainda hoje, em pleno século XXI, “pecar” pela omissão dos actos e permitir que seres humanos inocentes morram. É urgente alterar esta situação e ajudar a salvar vidas, pois isso não significa sacrificar nada que seja realmente importante para nós!
Miguel Alexandre Palma Costa
(Sobre o vídeo “Chiken à la Carte”)