Segundo José Gil, a ética, a moral e toda a carga valorativa perdeu a guerra com a onda populista que afecta o espaço público europeu.
Se a ética correspondia a um conjunto de princípios ou normas morais, como defendia Bento Espinosa (“é a força que determina o valor”), hoje, estas mesmas forças, no mundo da política, viraram-se do avesso. O mediatismo dos políticos, como é o caso de Sílvio Berlusconi, em muito tem contribuído para degenerescência e extinção da “ética política”, pois a visão populista e a manipulação da imagem do líder político, assim como o reforço da capacidade de influencia sobre as massas e a transformação do prestígio que é fabricado pelos media e que resulta em poder, tudo isto tem contribuído para profundas alterações no próprio mundo da política.
Ora, o grande resultado desta alteração é a trivialização e democratização do próprio espectáculo que é a política e a sua liderança. “O líder tornou-se actor”, ou melhor, “um homem como nós”, com pensamentos, sentimentos, virtudes e defeitos. E esta exposição da sua intimidade resultou, inesperadamente, num novo populismo mediático, ou seja, o mostrar tudo das novas tecnologias alterou a ética das forças vitais; pela nova estética da imagem e pela disposição das novas tecnologias em “mostrar tudo”. Os media não encontram barreiras entre o que é público e o que é privado, indo mesmo ao “descaramento” de revelar hoje um facto e uma cara considerados como ilícito e, no dia seguinte, este ilícito considera-se aceitável e rapidamente cai no esquecimento. Ou seja, os media, hoje, são os tribunais da opinião pública, sobretudo no que à política diz respeito: rapidamente condenam, absolvem e esquecem.
Helena Belga/Miguel Alexandre Palma Costa