1. A guerra é uma invenção humana desde os seus primórdios e a questão “será que o homem é capaz de viver sem guerra?” torna, no presente, a ter uma resposta negativa. A atualidade (e a história) está contra nós. Tanto quanto a memória alcança, sempre houve guerra e (infelizmente) ela está agora de regresso ao velho continente, quase 83 anos depois do início da IIª Grande Guerra.
Vladimir Vladimirovitch Putin, um imperialista convencido de que a guerra (ainda) é o caminho para a glória, iniciou, no passado dia 24 de fevereiro, uma “operação militar especial” na Ucrânia para alegadamente defender as pessoas de Donbass e Luhansk (extensas regiões mineiras). Putin, que está no poder desde 2012, já demonstrou por diversas vezes que não é um democrata, um defensor dos Direitos Humanos, mas sim um homem inebriado pela vontade de poder, um déspota que já pouco representa o povo russo (constituído também por grupos minoritários, desde mongóis, cazaques, tártaros da Sibéria a ucranianos), antes um conjunto de influentes oligarcas. Infortunadamente, o diálogo e a diplomacia voltam a ser substituídos pela destruição, violência, sofrimento, pela morte, pela fuga de milhões de refugiados…, mas a humanidade tem ainda alguma memória e não perdoará a quem criou uma nova instabilidade/tragédia no começo da segunda década do século XXI.
2. É célebre e popular – e nos últimos meses várias vezes repetida – a frase que “todos sabemos como começa uma guerra, mas não sabemos como acaba”.
Identicamente, percebemos agora que esta estava a ser preparada há algum tempo pelo líder russo e um grupo de poderosos homens do regime; que a comunidade internacional foi demasiado passiva/apática e inicialmente assistiu a tudo isto como um mero espetador, apelando sempre a uma solução pela via diplomática, mas que infelizmente acabou por não chegar; que muitos líderes europeus se deixaram manipular e ludibriar por alguém que é senhor de recursos naturais raros e valiosos…
Hoje, e face aos horríveis acontecimentos ocorridos nos últimos 3 meses, já pressentimos que mesmo que as tropas de Vladimir Putin tomem parte significativa do território ucraniano, ele já perdeu esta guerra! A coragem, a firmeza e ânimo de Zelensky fizeram dele um novo herói da Europa e do “novo mundo”, um mundo que mudou no espaço de uma semana e que (dizem-nos) não voltará a ser igual!
3. Enquanto os atuais “senhoras do mundo” e “senhores da guerra” não se entendem no que diz respeito à defesa dos interesses (económicos, geopolíticos, geoestratégicos…) de ambos, a violência e destruição continuam numa escalada crescente – e amplamente mediatizada em tudo o que é órgão de imprensa –, assim como o número de deslocados na Ucrânia e de refugiados nos países vizinhos.
Para um pacifista, a guerra é sempre – e em todas as suas vertentes – imoral (e ilegítima). Lamentavelmente, esta também já deu provas que não respeita as mais elementares normas/princípios que todos os seus intervenientes deveriam cumprir: Putin não respeita o princípio da proporcionalidade, o princípio da discriminação e o princípio da igualdade moral dos combatentes. Mais: a violência bruta nunca trará uma paz duradoura, e relativamente a isto o passado elucida-nos.
4. Infelizmente, a história comprova que as guerras normalmente se revestem de um enorme potencial de destruição, brutalidade, estupidez e de desumanidade. Sempre existiram guerras e todas elas tiveram (sem exceção) como “efeito” a morte intencional e indiscriminada de seres humanos inocentes. Putin não olha(rá) a meios para atingir os (seus) fins. Os russos conhecem-no bem!
Os cercos às cidades implicaram desde sempre a morte de civis inocentes. Os crimes de guerra são perpetrados todos dias enquanto este conflito durar.
Kiev, usando todos os meios disponíveis, lá vai conseguindo resistir ao invasor russo, mas desoladamente tudo isto custará muitas vidas (de militares e civis). Na guerra todos perdem. Na guerra, o bem torna-se mal e o mal torna-se bem... e esta não é uma guerra justa, pois admite a violação de direitos e o sacrifício de inocentes.
5. Na obra A Nova Arte da Guerra (2021), onde é delineada uma visão atual sobre os conflitos mundiais e a geoestratégia do futuro, o especialista e Professor de Estratégia na Universidade de Defesa Nacional e na School of Foreign Service da Universidade de Georgetown, Sean McFate, aponta (e justifica) 10 “preceitos” sobre a temática da guerra que não pudemos esquecer:
1. A guerra convencional morreu.
2. A tecnologia não nos salvará.
3. Guerra e paz vão coexistir sempre.
4. Conquistar o coração e a mente não basta.
5. As melhores armas não disparam balas.
6. Os mercenários vão dominar o panorama militar.
7. Vão surgir novas potências mundiais.
8. Haverá guerras sem estados.
9. As guerras na sombra prevalecerão.
10. Existem muitas maneiras de conquistar a vitória.
Ora, os 3 meses que já leva o conflito militar entre a Rússia de Putin e o estado soberano da Ucrânia – no qual não para de aumentar o número de vítimas (militares, civis, mulheres, crianças, idosos…) –, expõem que a regra nº 1 está desenquadrada, ou melhor, equivocada da (atual) realidade a que todos tristemente assistimos. No entanto, a frase do grande historiador grego Heródoto permanece atual: «em época de paz, os filhos enterram os pais, enquanto em época de guerra são os pais que enterram os filhos» (Histórias).
Miguel Alexandre Palma Costa
Artigo de opinião na Revista Leiaff, n.º 60, agosto de 2022 (ISSN 2183- 993X)
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