O conhecimento das ciências diz-nos que o ser humano é o único ser que sabe (tem consciência) que há futuro, e que ele pode ser pior ou melhor do que o presente, sendo que tal depende, em certa medida, da sua ação ou inexistência dela.
Ora, saber isto implica imaginar, planear, considerar o que deve ser feito, isto é, pensar o futuro, arquitetar antecipadamente – com toda a dúvida e/ou incerteza esperada – aquilo que tememos e esperamos no porvir, com todas as evidências possíveis do passado e presente, e o ser humano está apto (e deve) a fazê-lo constantemente.
A nobre atividade política tem, precisamente, como tarefa principal estabelecer a mediação entre aquilo que é o legado do passado, as prioridades do presente e os desafios (projetos/impulsos) do futuro, um futuro coletivo de esperança e confiança para todos os cidadãos. Por outras palavras, àqueles que exercem cargos políticos exige-se a construção de uma visão, linhas de orientação precisas, definição de objetivos/metas globais que norteiem um fim/rumo – e a vida – neste caso, de todos os portugueses.
Contudo, na atual política nacional – e regional – o futuro tem maus patronos e padece, infelizmente, de uma debilidade crónica. Isto é, os representantes dos cidadãos no sistema democrático nacional vigente estão inteiramente absorvidos pelo presente e ocupados com uma agitação político-partidária superficial cheia de cínico oportunismo – se quisermos, a assegurarem a sua continuidade e o seu “bem-estar” – que substitui a indispensável necessidade de delinear um horizonte mais ambicioso, motivador/atrativo e de efetiva transformação na linha de um progresso que se pretende, por uma lógica do curto prazo, do agora, dos resultados imediatos, do tomar o poder pelo poder sem qualquer ação e responsabilização pelo futuro.
Na Região (mas também em Portugal continental e na União Europeia) não há presentemente um desígnio comum; não há um projeto pensado, sólido e credível de nos revolucionarmos individualmente e de transmutarmos o país; não há uma visão e missão que signifique – e apele – a uma confiança no futuro e uma segurança e crença em nós próprios!
É justamente neste contexto que se inscreve (e também da qual resulta) a falta de ambição (e sonho) coletiva da sociedade portuguesa. A nossa democracia está presa numa conceção do instantâneo, do imediato, subordinada ao momento presente – está agora deslumbrada com os ‘novos’ sucessos económicos e financeiros mas eles não chegam; os cidadãos e o país exigem mais – aos ciclos e prazos eleitorais, às decisões políticas da atualidade e há ausência de projetos que nos submetem invariavelmente à tirania do presente. De um modo mais simples, grande parte da nossa classe política vive de acordo com a lógica da sobrevivência, da rápida adaptação à mudança e ao dia-a-dia, do caso concreto, daquilo que é notícia, do que é comentado na praça pública, do post nas redes sociais, ou seja, limita-se a gerir o presente – que “é dono e senhor” – mas não prepara (e pensa) o futuro.
Estão longe dos horizontes – e do interesse geral dos políticos – projetos do longo prazo, decisões que não tendam tanto a resolver situações do imediato mas a configurar investimentos, transformações e/ou reestruturações que não sejam conjunturais mas estruturais; estão excluídos grandes projetos como a Educação, Justiça, Saúde, Ciência e Tecnologia, o modelo de Segurança Social, a política Energética e Ambiental, a reforma da Administração Pública, a reforma do Sistema Político, etc.… tudo isto são assuntos para uma outra vontade política, para outro tempo que não o imediato, pois este está sujeito a cálculos e a um comportamento e ritmo eleitoral que não se coaduna com algo que não vivemos e não conhecemos: o futuro.
Assim, o futuro deixou de ser objeto relevante na agenda política e de mobilização social; ele está muitas vezes em contradição com os objetivos/metas de curto prazo, com os interesses do imediato, com os resultados e dados obtidos nas sondagens de opinião.
Em suma, o futuro está hoje hipotecado e já ninguém se preocupa com ele. Pior, os precedentes e atuais atores políticos agem como se não houvesse o “depois de amanhã”. Refrescando as palavras de Fernando Pessoa, não têm “o privilégio de entender o futuro” na medida em que não estão preparados para o criar!
Miguel Alexandre Palma Costa
Filosofia
Sociedade Portuguesa de Filosofia
Associação Portuguesa de Fenomenologia
Associação de Professores de Filosofia
Revista Portuguesa de Filosofia
Exames Nacionais de Filosofia - GAVE
Crítica - Revista de Filosofia
Psicologia
Associação Portuguesa de Psicologia
Educação
Direcção Geral de Recursos Humanos da Educação
Secretaria Regional da Educação da Madeira
Sindicato dos Professores da Zona Norte
Sindicato Democrático dos Professores da Madeira