“Não vale tudo na política!” Estas foram, recentemente, palavras do atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a propósito de mais um ‘caso’ e uma demissão, agora a do ex-secretário-geral do PSD, Feliciano Barreiras Duarte, sendo que a primeira figura do Estado chamou a atenção, mais uma vez, para a existência de “valores fundamentais, que estão na Constituição que tem uma visão personalista da política” e que seria importante toda a classe política compreender e exercitar.
É verdade que ouvimos da boca de muitos atores políticos da nossa praça regional (desde ex-governantes a atuais autarcas) e nacional, atestarem que o exercício da política (e esta é um agir mas simultaneamente uma “arte”, a arte de saber, de “intuir” aquilo que aqui e agora é possível realizar em benefício do bem comum dos cidadãos, ou melhor, da comunidade) não deve ser distinta da vivência quotidiana pessoal (vida privada), e que não pode ter códigos de conduta distintos, isto é, ela deve ser regulada por princípios, valores e modos de ser e de agir.
Ora, se “não vale tudo na política”, se deve de haver ética na política (e há ética na nossa Constituição”, como bem afirma Marcelo Rebelo de Sousa), então, talvez seja útil à própria classe política pensar, expor e cultivar publicamente valores que entendemos fundamentais como, por exemplo, o respeito pela dignidade da pessoa humana que está bem presente na nossa Constituição, e que muitas vezes parece subtraído em decisões políticas tomadas.
Mas, queria ainda, e dando um primeiro passo em frente (naturalmente, com o risco de deslizar em prováveis incorreções), falar sobre valores e a sua importância na atividade (práxis) política nacional e regional.
Primeiro, faz todo o sentido responder à pergunta o que são os valores?
Ora, os valores não são coisas, objetos, mas antes a importância que se atribui ou reconhece a algo ou alguém. Um valor é sempre o resultado de uma relação entre um objeto e um padrão utilizado pela nossa consciência que avalia uma ação realizada ou a realizar. Por outras palavras, empregamos a palavra valor para nos referirmos a algo que não nos deixa indiferentes e, por isso, nos provoca estima ou repulsa, amor ou ódio. Os valores são assim uma espécie de “mais-valia” que acrescentamos a alguma coisa ou a um facto, isto é, são qualidades que lhes atribuímos em função de sentimentos e, por isso mesmo, considera-se que os valores são subjetivos, relativos, ou seja, o resultado de uma escolha que depende da atitude, educação, cultura, etc., de cada pessoa.
A título de exemplo, temos valores como os da amizade, bondade, o belo, a harmonia, saúde, justiça, e o primário valor da Vida.
Segundo, agora surge a importante questão: que valores deve a prática política respeitar e cultivar?
Considerada (ou não) como arte, ciência, filosofia ou mesmo como ideologia, a política enquanto atividade humana de conquista e exercício do poder, nunca deverá prescindir da dimensão moral, isto é, de valores. A política não pode apresentar-se alheia, pior, indiferente, ao universo ético. O seu exercício reivindica e impõe, como o desempenho de qualquer outra atividade consciente (nas palavras do próprio Marcelo Rebelo de Sousa), “valores fundamentais”, tais como a honestidade, integridade, responsabilidade, confiança, humildade, lealdade, cooperação, respeito, justiça, transparência, igualdade, bondade, tolerância, solidariedade, equidade, etc. e, obviamente não podia esquecer a liberdade e uma radical exigência de Verdade!
Apesar de no século XX e no presente, a sociedade considerar que existe uma crise de valores, ou pelo menos se apontar a falência dos valores tradicionais, pois a globalização económica, o neoliberalismo, relativismo e o crescente individualismo proliferam a par do crescente desenvolvimento científico e tecnológico, ainda assim, na política será sempre perigoso os seus agentes comportarem-se como se a Verdade não existisse.
Hoje, mais do que em qualquer tempo do passado, o grande perigo que ameaça a atuação política nas nossas democracias altamente técnicas, burocratizadas e mediatizadas é, sem dúvida, a manipulação (alguns chamam-lhe “retórica negra”), ou seja, a tentação de domesticação dos cidadãos (das grandes massas) para fins que um determinado poder (muitas vezes oculto) tem em vista, e o mediatismo exagerado fabricado pelos media também muito tem contribuído para as profundas alterações que têm ocorrido no mundo da política e para a diminuição ou mesmo extinção da ética política.
Ana Filipa Silva Fernandes de Castro
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