No conhecimento filosófico (e também noutros tipos de conhecimento), que muitos apelidam de saber radical, é relevante (e necessário) ir à raiz dos problemas, até porque para muitos deles não há respostas conclusivas, mas contínuos patamares que suplantamos na busca incessante pela Verdade.
Façamos, então, um pequeno exercício reflexivo.
Os primeiros casos do novo coronavírus (Sars-CoV-2) surgiram na primeira semana de dezembro de 2019 (algumas fontes mais recentes referem novembro), na cidade de Wuhan (que tem cerca de 11 milhões de habitantes), província de Hubei, esta com perto de 60 milhões de habitantes e que figura como uma das 20 maiores da China.
A doença (COVID-19) foi comunicada à OMS, pela primeira vez, a 31 de dezembro de 2019, em Wuhan: referia-se um “conjunto de casos”, cerca de 40, de uma pneumonia atípica causada por um vírus desconhecido.
Sabemos hoje que as primeiras semanas podem ter sido cruciais para que o vírus Sars-CoV-2 se espalhasse; que o vírus não ficou contido na província de Hubei; que o regime autoritário chinês falhou numa primeira fase (‘aparentemente’, até adulterou números), mas que este iniciou logo medidas bastante significativas/restritivas para a contenção do surto epidémico e que esta grande nação contabiliza, acreditando nos dados reportados, cerca de 91274 casos positivos com Covid-19 e 4739 óbitos, e que Wuhan teve 76 dias de confinamento obrigatório.
Em Portugal, a gestão e o ataque/controlo a esta pandemia – e os números – foi (e está a ser) diferente. Depois de 45 dias de estado de emergência (março e abril), acompanhado do decretar de um confinamento obrigatório, do encerrar de escolas, aeroportos e de grande parte da atividade económica, tudo ficou aparentemente “resolvido” e sossegado no verão e a aguardar o surgimento (ou não) de uma nova e segunda vaga da Covid-19, lá para o outono ou inverno.
Entretanto, esta 'imobilidade' e falta preparação face ao que estava para vir, está agora a ter resultados que não desejávamos, mas que exibem claramente que não fizemos tudo aquilo que deveria ter sido feito. Estamos hoje bem piores do que em março ou abril. O número de mortos (2428) e de infetados pela Covid-19 (132 616) aumenta de forma galopante a cada dia que passa, para não falar da rutura do SNS que deixou de responder aos utentes que sofrem de outras doenças e começa a já não dar resposta aos docentes Covid-19 (de acordo com dados recentes do INE, há um aumento de mais 7.155 óbitos em relação à média do mesmo período nos últimos cinco anos, isto para os óbitos não-Covid e que estão por explicar). Registe-se, ainda, que nos últimos dias a China não apresenta novos óbitos por Covid-19.
Ora, perante tudo isto, duas questões:
1. O que não apendemos com o exemplo da China (e de outros países da Ásia), sobretudo no domínio da contenção e monitorização do alastrar das infeções pela Covid-19?
2. O que está a falhar na Europa e em Portugal, pois sabíamos que muito provavelmente haveria uma segunda vaga bem mais severa que a primeira e não tomamos, em tempo útil, todas as medidas requeridas para a moderar/conter?
Lamentavelmente, creio que agora já ninguém ousa dizer isto “Vai ficar tudo bem”!
Miguel Alexandre Palma Costa