Ao escutar as palavras iniciais da preletora e autora do Método Fonomímico, Prof.ª Paula Teles, fomos conduzidos durante alguns ensejos a uma viagem histórica e hermenêutica da palavra “dislexia”, e é precisamente sobre esse conceito que redigirei seguidamente algumas linhas.
Primeiro, o termo, e como se pode comprovar num qualquer dicionário académico ou online, deriva do grego Δυσλεξία, isto é, dis = dificuldade, distúrbio, + lexis = palavra), e é caracterizado como uma “dificuldade na área da leitura, escrita e soletração”. Ou seja, e como ficou bem patente, a dislexia não é uma doença, mas sim uma dificuldade da aprendizagem específica da leitura e é caracterizada por “obstáculos” na correção e/ou fluência na leitura de palavras e por baixa competência na leitura e na ortografia, não sendo o resultado de um baixo Q.I., como já ficou cientificamente demonstrado.
Após esta breve explanação, a autora do Método Fonomímico, Prof.ª Paula Teles, apresentou aos presentes a evolução do conceito/termo “Dislexia”, sendo que foi em 1887 usado pela primeira vez pelo oftalmologista alemão, Berlin, para descrever o caso de um paciente adulto que, após um acidente vascular cerebral, perdeu a capacidade de ler, apesar de ter mantido a visão, a linguagem e a inteligência. Quase uma década depois, 1896, o pediatra inglês, Pringle-Morgan, usou o termo “Cegueira Verbal Congénita”, para descrever o caso de um jovem de 14 anos que, apesar de ser inteligente, exibia uma incapacidade para a linguagem escrita. Já em 1937, o americano Samuel Orton, desenvolveu um trabalho de grande relevância e deixou-nos o conceito de “Alexia do Desenvolvimento”, para além de ter preconizado já uma intervenção terapêutica “individualizada, multissensorial, estruturada, sistemática, sequencial e cumulativa”. Contudo, trinta e um anos mais tarde, a Federação Mundial de Neurologia (1968) decide-se então pela adoção do termo “Dislexia do Desenvolvimento” e define-a da seguinte forma: “é uma perturbação que se manifesta por dificuldades na aprendizagem da leitura, apesar das crianças serem ensinadas com métodos de ensino convencionais, terem inteligência normal e oportunidades socioculturais adequadas. Os problemas são causados por défices cognitivos básicos que são frequentemente de origem constitucional”. Apesar destas inovações, em finais do século XX, esta descrição é “reajustada” no/pelo Manual de Diagnóstico e Estatística de Doenças Mentais (DSM-4,1994), que compreende pela primeira vez a dislexia nas perturbações de aprendizagem e usa a designação de “Perturbação da Leitura e da Escrita” e estabelece critérios de diagnóstico. No entanto, no DSM-5 (2011), a dislexia surge como uma perturbação da/na aprendizagem e apresenta 6 formas de diagnóstico específicas: 1. desordem na leitura das palavras; 2. desordem na fluência da leitura; 3. desordem na compreensão da leitura; 4. desordem na expressão escrita; 5. desordem no cálculo matemático; 6. e desordem na resolução de problemas de matemática.
Ora, face ao enorme avanço científico e às descobertas já feitas, ainda assim hoje estima-se que esta perturbação afete cerca de 10% a 15% da população mundial, e apesar da mesma anunciar causas hereditárias e congénitas, ela ocorre claramente após a entrada da criança na escola, isto é, durante a sua alfabetização, apesar de alguns dos seus sintomas já poderem ser percetíveis anteriormente. É precisamente aqui que o Método Fonomímico de Paula Teles intervém, pois nas palavras da sua autora, é incompreensível deixar estas crianças disléxicas ao abandono e não lhes possibilitar uma intervenção educativa especializada e adequada às suas dificuldades específicas, tais como: dificuldades subtis de discriminação de sons, não-associação dos símbolos gráficos com as suas componentes auditivas, confusão de sílabas iniciais, intermédias e finais; problemas de perceção auditiva; problemas de articulação, etc., e são precisamente estas dificuldades que o Método Fonomímico de Paula Teles procura diligenciar com as crianças.
Miguel Alexandre Palma Costa
Filosofia
Sociedade Portuguesa de Filosofia
Associação Portuguesa de Fenomenologia
Associação de Professores de Filosofia
Revista Portuguesa de Filosofia
Exames Nacionais de Filosofia - GAVE
Crítica - Revista de Filosofia
Psicologia
Associação Portuguesa de Psicologia
Educação
Direcção Geral de Recursos Humanos da Educação
Secretaria Regional da Educação da Madeira
Sindicato dos Professores da Zona Norte
Sindicato Democrático dos Professores da Madeira