O que são teorias?
«As teorias [científicas] são sempre, e sempre serão, suposições, conjecturas ou hipóteses. São avançadas, é claro, com a esperança de se descobrir a verdade, ainda que sejam mais as vezes em que a não atingem. Podem ser verdadeiras ou falsas. Podem ser testadas por observações [a principal tarefa da ciência é tornar esses testes cada vez mais severos], e rejeitadas se não passarem neles. [...] Na verdade, com uma lei proposta não podemos fazer mais nada do que testá-la: não serve de nada fingirmos que estabelecemos teorias universais, que as justificámos ou que as tornámos prováveis através da observação. Não o fizemos, e não o podemos fazer. Não podemos dar razões positivas nenhumas a favor delas. Continuam a ser suposições ou conjecturas – ainda que, talvez, bem testadas. No entanto, se considerarmos os problemas que resolvem e as críticas e testes que suportaram, poderemos ter excelentes razões críticas para as preferir a outras teorias – ainda que só provisoriamente e a título de ensaio.»
«Tantas vezes tenho descrito o que considero como o método de autocorrecção por meio do qual a ciência procede que posso ser aqui muito sucinto: o método da ciência é o método de conjecturas ousadas e de tentativas engenhosas e severas para refutá-las.
Conjectura ousada é uma teoria com um grande conteúdo – maior, de qualquer forma, que a teoria que, esperamos, será superada por ela.
Deverem ser ousadas as nossas conjecturas é decorrência imediata do que tenho dito a respeito do alvo da ciência e da aproximação da verdade: a ousadia, ou grande conteúdo, liga-se ao grande conteúdo da verdade; por isto o conteúdo de falsidade pode ser ignorado a princípio.
Mas um aumento no conteúdo de verdade não é, em si mesmo, suficiente para garantir um aumento de verosimilitude; como o acréscimo no conteúdo é uma questão puramente lógica, e como o acréscimo no conteúdo de verdade marcha com o acréscimo de conteúdo, o único campo deixado ao debate científico – e especialmente aos testes empíricos – é haver também aumentado, ou não, o conteúdo de falsidade. Esta nossa procura competitiva da verosimilitude transforma-se, especialmente do ponto de vista empírico, numa comparação competitiva de conteúdos de falsidade (facto que certas pessoas encaram como paradoxo). Parece que também em ciência é certo (como certa vez disse Winston Churchill) que as guerras nunca são ganhas, mas sempre perdidas.
Nunca podemos tomar absolutamente certo que a nossa teoria não está perdida. Tudo quanto podemos fazer é procurar o conteúdo de falsidade da nossa melhor teoria. Fazêmo-lo tentando refutar a nossa teoria, isto é, tentando testá-la severamente à luz do nosso conhecimento objectivo e do nosso engenho. Sempre é possível, sem dúvida, que a teoria possa ser falsa, mesmo que passe por todos os testes; isto é uma concessão devida à nossa busca de verosimilitude. Mas, se ela passar por todos esses testes, então temos boa razão para conjecturar que a nossa teoria, que sabemos ter conteúdo de verdade maior do que a sua predecessora, pode não ter maior conteúdo de falsidade. E se falharmos em refutar a nova teoria, especialmente em campos em que a sua predecessora haja sido refutada, então podemos alegar isto como uma das razões objectivas para a conjectura de que a nova tese é uma aproximação da verdade melhor do que a velha teoria.»
«Um homem empurra uma criança para a água com a intenção de a afogar; e outro homem sacrifica a vida numa tentativa de salvar a criança. Cada um destes casos radicalmente diferentes de comportamentos pode-se facilmente explicar em termos freudianos – e, por acaso, em termos Adlerianos também. Segundo Freud, o primeiro dos dois homens sofria de recalcamento […] ao passo que o segundo atingira a sublimação […]. Segundo Adler, o primeiro sofria de sentimentos de inferioridade (que talvez produzissem a necessidade de provar a si mesmo que era capaz de ter a audácia de cometer um crime); e o mesmo para o segundo homem (cuja necessidade era a de provar a si mesmo que era capaz de ter a audácia de arriscar a vida).
Não consigo pensar em nenhum caso concebível de comportamento humano que não pudesse ser interpretado em termos quer de uma quer de outra teoria e que não pudesse ser reivindicado, por cada uma das teorias, como “verificação” […].
A perspectiva verificacionista da ciência é, de certo modo, algo como isto: de um modo ideal, a ciência consta de todos os enunciados verdadeiros. Como nós não os conhecemos a todos, tem, pelo menos, de constar de todos os que nós tenhamos verificado […].
A atitude falsificacionista é diferente. Para ela, a ciência consiste em arriscarem-se hipóteses explicativas – “arriscar” no sentido em que essas hipóteses afirmam tanto que facilmente se podem revelar como falsas. E dá o seu melhor para as criticar, esperando detectar e eliminar candidatos defeituosos ao estatuto de teoria explicativa, esperando também, através disso, alcançar mais compreensão.»
K. Popper, “A demarcação entre ciência e metafísica”,
In M. M. Carrilho (org.) Epistemologia: Posições e Críticas, FCG, Lisboa.
«Uma teoria é científica se pode ser falsificada por meio da experiência (no caso das teorias empíricas) ou por meio do seu carácter internamente contraditório (no caso das teorias lógicas e matemáticas). (…)
Aquilo que não versa sobre a experiência e que não é falsificável por ela pode perfeitamente ter sentido, mas não é científico. Popper não acusou a metafísica clássica, nem, de modo geral, a religião, a poesia ou a arte de ausência de sentido, como fizera o Círculo de Viena (…). O que acontece é que, entre os enunciados empíricos que têm sentido (por exemplo, “surgirá no céu uma bola de fogo” e “o cometa Halley aparecerá no ano 1986”), o primeiro não é falsificável e o segundo, sim; nesta medida, só o segundo é um enunciado científico (…).
Um enunciado universal do tipo “todos os homens são mortais” nunca poderá ser comprovado experimentalmente, por muitos que sejam os casos singulares em que, com efeito, se certifique que morreu um indivíduo singular. Em contrapartida, é muito mais fácil refutar o mesmo enunciado através da experiência. Bastaria mostrar que determinado homem não morreu (…). Nessa medida, o enunciado universal em causa é plenamente aceitável por uma disciplina científica como a Biologia.
Javier Echevería, Introdução à Metodologia da Ciência, Almedina.
«Tantas vezes tenho descrito o que considero como o método de autocorrecção por meio do qual a ciência procede que posso ser aqui muito sucinto: o método da ciência é o método de conjecturas ousadas e de tentativas engenhosas e severas para refutá-las.
Conjectura ousada é uma teoria com um grande conteúdo – maior, de qualquer forma, que a teoria que, esperamos, será superada por ela.
Deverem ser ousadas as nossas conjecturas é decorrência imediata do que tenho dito a respeito do alvo da ciência e da aproximação da verdade: a ousadia, ou grande conteúdo, liga-se ao grande conteúdo da verdade; por isto o conteúdo de falsidade pode ser ignorado a princípio.
Mas um aumento no conteúdo de verdade não é, em si mesmo, suficiente para garantir um aumento de verossimilitude; como o acréscimo no conteúdo é uma questão puramente lógica, e como o acréscimo no conteúdo de verdade marcha com o acréscimo de conteúdo, o único campo deixado ao debate científico – e especialmente aos testes empíricos – é haver também aumentado, ou não, o conteúdo de falsidade. Esta nossa procura competitiva da verossimilitude transforma-se, especialmente do ponto de vista empírico, numa comparação competitiva de conteúdos de falsidade (facto que certas pessoas encaram como paradoxo). Parece que também em ciência é certo (como certa vez disse Winston Churchill) que as guerras nunca são ganhas, mas sempre perdidas.
Nunca podemos tomar absolutamente certo que a nossa teoria não está perdida. Tudo quanto podemos fazer é procurar o conteúdo de falsidade da nossa melhor teoria. Fazêmo-lo tentando refutar a nossa teoria, isto é, tentando testá-la severamente à luz do nosso conhecimento objectivo e do nosso engenho. Sempre é possível, sem dúvida, que a teoria possa ser falsa, mesmo que passe por todos os testes; isto é uma concessão devida à nossa busca de verossimilitude. Mas, se ela passar por todos esses testes, então temos boa razão para conjecturar que a nossa teoria, que sabemos ter conteúdo de verdade maior do que a sua predecessora, pode não ter maior conteúdo de falsidade. E se falharmos em refutar a nova teoria, especialmente em campos em que a sua predecessora haja sido refutada, então podemos alegar isto como uma das razões objectivas para a conjectura de que a nova tese é uma aproximação da verdade melhor do que a velha teoria.»
Popper, K., Conhecimento Objectivo, São Paulo, Ed. Universidade, 1975, pp 84-85.
«1. Não existe nenhum critério de verdade; nem mesmo quando houvemos alcançado a verdade, podemos estar seguros disso.
2. Existe um critério racional de progresso na busca da verdade e, por conseguinte, um critério do progresso científico. [...]
Mas que se entende então por critério racional do progresso científico na busca da verdade, do progresso das nossas hipóteses, das nossas conjecturas? Quando é que uma hipótese científica é preferível a uma outra hipótese?
A resposta é: a ciência é uma actividade crítica. Nós testamos criticamente as nossas hipóteses. Criticamo-las com o propósito de detectar erros e na esperança de, ao eliminarmos os erros, nos aproximarmos da verdade.
Consideramos uma dada hipótese – por exemplo, uma hipótese nova – preferível a uma outra quando satisfaz os três requisitos seguintes: em primeiro lugar, a nova hipótese deve explicar todos aqueles aspectos que a hipótese anterior havia conseguido explicar com êxito. Este constitui o primeiro ponto e o mais importante. Em segundo lugar, deve evitar ao menos algumas das falhas da hipótese anterior. Ou seja, deve, se possível, resistir a alguns dos exames críticos a que a outra hipótese não resistiu. Em terceiro lugar, deve explicar, se possível, os aspectos que a antiga hipótese não pôde esclarecer ou prever.
É este, pois, o critério do progresso científico.»
Popper, K., Em Busca de um Mundo Melhor,Lisboa; Editorial Fragmentos. 1989, pp. 48-49.
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